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Escrito com ciência, gravado com carinho. 

Nossa página de roteiros do podcast. Fazemos updates com bastante frequência! Perdeu algum detalhe ou não entendeu alguma nomenclatura? Leia os roteiros.

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Âncora 1

EP. 1 / Preparando para Gestar

Olá pessoal. Eu sou a Simone e, em conjunto com a minha orientadora Cristiane, desejo boas-vindas ao podcast “Estamos grávidos, e agora?”, que possui como objetivo compartilhar informações científicas e atuais, de maneira clara, sobre aspectos que envolvem a saúde no período perigestacional. Essa área das ciências da vida se chama Origens Desenvolvimentistas da Saúde e da Doença (DOHaD), e tem sido estudada por muitos cientistas no mundo todo. DOHaD estuda como intercorrências precoces na vida podem afetar a saúde ao longo do desenvolvimento até a velhice. Por exemplo, o baixo peso ao nascer, causado por desnutrição, está correlacionado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares ao longo da vida. Esses estudos foram realizados nos anos 80 por um pesquisador britânico chamado David Barker, que foi um dos precursores dessa área da ciência. Fazemos parte de um laboratório, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que estuda essa linha de pesquisa, e por isso, decidimos compartilhar essa informação de uma forma aplicada à vida de todos nós, sabendo que esse conhecimento pode ser decisivo para a saúde das próximas gerações. Neste primeiro episódio falaremos do início, como se preparar para gestar? Quais cuidados ter, qual a importância do pré-natal e por onde começar?  ​ O pré-natal é um protocolo da Organização Mundial da Saúde, que visa uma gestação tranquila, o desenvolvimento saudável do bebê e a preservação da saúde da mãe. Ele é um direito assegurado pelo SUS, que por lei deve garantir pelo menos seis consultas de acompanhamento durante todo período gestacional, e os profissionais da saúde devem instruir os pais em todas as etapas - pré-gestação, gestação e puerpério.  Bem, sabemos que muitas vezes ocorre uma gravidez não-planejada, e os cuidados começam no momento da descoberta, quando é essencial iniciar os protocolos de pré-natal buscando um médico obstetra. Mas, para quem está começando a pensar em engravidar, ter a orientação de um médico obstetra pode prevenir problemas antes, durante e depois da gestação. O médico (a) irá conversar, orientar, fazer alguns exames físicos (medidas de pressão arterial, estatura, medição corporal, e outros), exames ginecológicos e solicitar exames de sangue. É importante procurar um nutricionista também, para ver como está a dieta dos futuros pais, os níveis de vitaminas e minerais, saber quais alimentos é preciso aumentar a ingestão e quais não é indicado consumir. Pensando em fertilidade, algumas dietas alimentares são indicadas tanto para a mulher quanto para o homem, incluindo um baixíssimo consumo de alimentos ultraprocessados, aliado a um aumento da ingestão de vitaminas, minerais, proteínas e gorduras boas. ​ Além disso, a suplementação de ácido fólico e cálcio em doses individualizadas são extremamente importantes para a futura mãe, pois o cálcio ajuda na prevenção de pré-eclâmpsia, e o ácido fólico ajuda no desenvolvimento do tubo neural do feto num período muito precoce da gestação. A pré-eclâmpsia é uma condição de risco para a gestante, consiste na alteração da pressão arterial, que acarreta problemas nos rins e no coração, e quando há convulsões passa a ser chamado de eclâmpsia. Estudos mostraram que há uma relação entre a suplementação de cálcio com a diminuição do risco de gestantes desenvolverem pré-eclâmpsia, ou até mesmo eclâmpsia. O tubo neural é a estrutura embrionária que irá formar o cérebro e a medula espinhal do bebê. O ácido fólico é uma coenzima muito importante utilizada em modificações epigenéticas no material genético do embrião. Pesquisas mostram que a deficiência de ácido fólico na gestação é, hoje em dia, a principal causa de malformações congênitas de recém-nascidos. Porém, não é apenas a futura mãe que precisa de consultas pré-natais, o futuro pai também precisa iniciar alguns cuidados, afinal, herdamos metade do material genético dessas adipocinas, produzidas pelos adipócitos, possuem uma interconexão com a resistência à insulina, inflamação e a maturação de óocitos, os gametas femininos. Existe uma relação entre o Hipotálamo, a hipófise e o ovário, chamado “Eixo HPO”. O hipotálamo, uma região no cérebro, produz o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina) que é liberado na corrente sanguínea para chegar na Hipófise anterior, essa glândula estimula a secreção do hormônio FSH - responsável pela maturação dos óvulos - e do LH - responsável por amadurecer os folículos e sintetizar a progesterona. Em mulheres obesas, as adipocinas interferem na liberação do GnRH, afetando a neurorregulação do eixo HPO e, por consequência, interferindo na ovulação e na gestação. Para finalizar, uma dica… além do fator genético, é importante criar, sempre que for possível, o trinômio mãe-bebê-pai, já que existem pesquisas que evidenciam a diminuição da ansiedade e do estresse materno quando há envolvimento do pai no pré-natal, além de fortalecer o laço entre eles. Alguns estudos já mostram que um pré-natal eficiente reduz complicações gestacionais, como diabetes, eclâmpsia e prematuridade; além disso, há pesquisas que demonstram no bebê um desenvolvimento motor mais rápido e eficaz quando a  mãe teve esse acompanhamento prévio. Hoje ficamos por aqui, nos próximos episódios iremos nos aprofundar mais em diversos tópicos fundamentais para tornar esse período gestacional o mais saudável e tranquilo possível. Esperamos que tenham gostado! Créditos: Roteiro: Simone Edomenia Figueiredo Vargas, Bolsista BIPOP/UFRGS e Cristiane Matté, professora do Departamento de Bioquímica, ICBS/UFRGS, Presidente da Sociedade Regional DOHaD Latino-Americana. Edição técnica: NAPEAD - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

EP. 2 / Saúde da Gestante

Âncora 2

Olá pessoal. No episódio anterior nós vimos como se preparar para a gestação, hoje, vamos nos aprofundar um pouquinho mais e falar sobre a saúde da mulher durante esse período. ​ Começaremos com algo muito importante: o sono. Hoje em dia já estão disponíveis vários estudos e pesquisas sobre a importância de uma boa qualidade de sono para a saúde física e psicológica. Infelizmente, devido às mudanças físicas no corpo da mulher, como o aumento do volume abdominal, e as alterações hormonais durante a gestação, é bastante comum mulheres se queixarem de alterações no padrão, duração e qualidade do sono. Em alguns casos percebe-se até mesmo o desenvolvimento de distúrbios noturnos. Esses problemas podem surgir logo no início da gestação, ainda no primeiro trimestre. Um estudo mostrou que no primeiro trimestre muitas gestantes aumentaram a duração de tempo em horas dormidas, porém, a duração do sono profundo diminuiu bastante e as mulheres se queixavam de muita sonolência ao longo do dia. Já no segundo trimestre, a duração total do sono caiu, porém a duração do sono profundo aumentou. No terceiro trimestre a maioria das mulheres apresentaram redução do sono profundo e do sono REM e um aumento do tempo de cochilos ao longo do dia. Também foram registrados casos de dificuldades para adormecer, síndrome das pernas inquietas, desconfortos gerais, sono agitado, insônia, despertar constante e frequência urinária noturna acima do comum. Pesquisas já relacionaram as dificuldades do sono com maiores chances de complicações gestacionais, tais como: pré-eclâmpsia, hipertensão, diabetes gestacional, trabalho de parto prematuro e depressão pós-parto.  Para melhorar a qualidade do sono, estudos indicam: incluir atividade física na rotina, realizar exercícios de relaxamento - meditação e yoga - ouvir músicas tranquilas e fazer uma higiene do sono. Para isso, sugere-se não utilizar telas - computador, celular e televisão - mais ou menos uma hora antes de deitar, ler um livro e procurar ter um horário fixo para fazer essa rotina, para dormir e também para acordar. Outro tópico que está ganhando visibilidade na saúde da mulher gestante é a saúde bucal. A nossa gengiva é formada por dois tecidos, o epitelial e o conjuntivo, e neles existem receptores específicos para os hormônios femininos estrogênio e progesterona. Na gestação, a produção destes hormônios aumenta significativamente e, por consequência, os vasos sanguíneos destes tecidos sofrem variações de dilatação, facilitando um processo inflamatório mais recorrente na região, a gengivite. Esse fator, associado com uma má higiene bucal, pode desequilibrar a microbiota local e favorecer a proliferação de bactérias que podem agravar esse quadro inflamatório. ​ Estudos mostram uma conexão entre doenças na microbiota periodontal e desfechos negativos na gestação, principalmente com o parto prematuro. Os estímulos inflamatórios da infecção podem induzir uma irritabilidade do tecido uterino, causando a contração do útero e dilatação cervical e, dessa forma, ocorre um dano à placenta e consequentemente uma restrição de crescimento fetal, atuando como um estímulo para o parto prematuro. Para evitar estas complicações, a recomendação é a gestante realizar consultas odontológicas com maior frequência, ou caso não consiga ir com periodicidade recorrente, a sugestão é de que agende uma consulta pelo menos uma vez no segundo trimestre. A higiene bucal mediana, que normalmente seria suficiente fora da gestação, não basta durante o período gestacional, o cuidado com a saúde bucal precisa ser maior. ​ A náusea e o vômito na gestação são fatores que colaboram tanto para uma infecção bucal quanto para uma má qualidade de sono e afetam entre 50% a 80% das mulheres, por isso achamos interessante abordar este tópico hoje. É muito comum que um dos primeiros alertas de gravidez seja o enjôo e, em alguns casos, esse sintoma pode perdurar durante toda a gestação. O tratamento mais utilizado pelos médicos consiste em mudança de hábitos alimentares, tais como ingerir alimentos leves e frescos, de preferência gelados, em quantidades pequenas a cada refeição, aumentando a frequência de refeições para obter uma quantidade adequada de nutrientes, acrescentar gengibre na alimentação; beber bastante água e chá de camomila; adicionar mais bolachas de água e sal; evitar alimentos ultraprocessados e que contenham alto teor de gordura. Caso necessário pode-se utilizar antieméticos, com prescrição médica. Porém, hoje em dia já existem especialistas que não recomendam o uso dessas medicações, em função de potenciais efeitos colaterais no bebê. Sobre as medicações em geral, é bem importante que as gestantes perguntem ao seu médico quais remédios podem ou não ingerir, pois muitos componentes químicos em medicações possuem efeito teratogênico, ou seja, causam má formação no feto. É muito importante também evitar a automedicação. Bom, sabemos que a maioria da população adulta bebe café ou faz uso de outros alimentos e bebidas que contenham cafeína. E durante a gestação, pode fazer uso destes alimentos e bebidas? O recomendado é que a mulher consuma no máximo 300 mg de cafeína por dia, mas alguns médicos e nutricionistas preferem retirar este componente da dieta materna, pois vários estudos já demonstraram que o consumo de produtos cafeinados na gestação está relacionado a efeitos negativos para o bebê, tais como: retardo de crescimento uterino, risco de aborto esponâneo e baixo peso ao nascer.  Uma dúvida bastante pertinente entre as mulheres é se podem ou não viajar de avião durante a gravidez. As recomendações do Conselho Federal de Medicina através da Cartilha de Medicina Aeroespacial, são: em uma gestação que não é de risco, a mulher pode viajar tranquilamente, porém a partir da 36 (trigésima sexta) semana, precisa de uma declaração do médico obstetra permitindo a viagem, e a partir da 38 (trigésima oitava) semana, o médico precisa acompanhar a gestante. Já para gestações múltiplas, a necessidade de declaração de permissão de viagem é antecipada para a 32 (trigésima segunda) semana. Não é recomendado que a gestante viaje caso tenha tido algum sangramento vaginal no período que antecede o voo. Essas recomendações são gerais, o mais prudente é discutir cada caso com o médico obstetra que acompanha a gestante. ​ Sabemos que durante a gestação ocorrem diversas mudanças físicas, bioquímicas e emocionais com a mulher, e isso impacta todas as áreas de sua vida, assim como na saúde sexual. Pesquisas realizadas com grupos de mulheres mostram que a variação do desejo sexual conforme os trimestres da gestação, o medo de machucar o bebê e o pouco diálogo sobre o assunto, são tópicos que ainda causam desconforto e, por isso, pertinentes e importantes de serem abordados. ​ Achados na literatura acadêmica demonstram que, normalmente, no primeiro trimestre gestacional há queda de desejo sexual da mulher, no segundo trimestre o desejo aumenta e, por fim, no terceiro trimestre a vontade sexual da mulher volta a diminuir. A diminuição da frequência e do desejo sexual no primeiro trimestre foi vinculado em algumas pesquisas com o medo de aborto espontâneo, a ansiedade relacionada com a descoberta da gravidez e desconfortos gestacionais, por exemplo, os enjoos que abordamos anteriormente. Já a queda no terceiro trimestre foi relacionada com o desconforto físico devido ao tamanho abdominal, dores e receio de antecipar o parto. É importante destacar que o bebê está protegido dentro do útero, sendo assim, não há chances da penetração vaginal ferí-lo. Porém, há muitas divergências sobre ser recomendado ou não a relação sexual no último trimestre da gestação, sendo assim, a recomendação é conversar com o médico obstetra e avaliar cada caso individual.  ​ Outro tópico essencial quando falamos de saúde da gestante é a imunização, pois os anticorpos recebidos pelas vacinas vão passar para o bebê através da placenta durante o seu desenvolvimento embrionário, e após o nascimento estes anticorpos são passados através da amamentação. Segundo o Ministério da Saúde, as mulheres precisam das seguintes vacinas: Vacina dTpa - protege contra o tétano, coqueluche e a difteria; a vacina da Hepatite B; vacina da gripe e a vacina da covid-19. É importante também ficar atenta se a carteira vacinal estava completa antes da gestação, para atualizar as vacinas pendentes. Hoje ficamos por aqui pessoal, esperamos que tenham gostado e que estas informações agreguem bastante para vocês, principalmente para as gestantes. Não percam nossos próximos episódios, onde abordaremos assuntos muito importantes. Até mais! Créditos: Roteiro: Simone Edomenia Figueiredo Vargas, Bolsista BIPOP/UFRGS e Cristiane Matté, professora do Departamento de Bioquímica, ICBS/UFRGS, Presidente da Sociedade Regional DOHaD Latino-Americana. Revisão: Gabriela Bassegio, Dentista graduada na UFRGS Produção técnica: NAPEAD - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

EP. 3 / Exercício Físico na Gestação

Âncora 3

Oi pessoal, no episódio de hoje iremos abordar a importância do exercício físico na gestação para a saúde tanto da mãe quanto do bebê. Antigamente se pensava que, durante a gravidez, a mulher precisava descansar e repousar durante todos os nove meses, para garantir a saúde do bebê e evitar abortos espontâneos. Hoje em dia, diversos estudos já demonstraram que o exercício físico na gestação é essencial, e pode trazer muitos benefícios para mãe e bebê. O exercício físico induz adaptações na placenta, que irão otimizar a circulação sanguínea, contribuindo para o deslocamento de oxigênio e nutrientes para o bebê.  Para a gestante, os principais benefícios são: controle de peso, bem-estar tanto psicológico, agindo na regulação de emoções como ansiedade, estresse e depressão pós-parto; quanto físico, pois atua no controle de dores lombares e pélvicas, diminui desconfortos gestacionais e previne condições graves que são relativamente frequentes no período perigestacional, como pré-eclâmpsia, diabetes e trombose. Além disso, exercício gestacional diminui as chances tanto de parto por cesárea quanto de desenvolver incontinência urinária. Os problemas gestacionais de hipertensão e pré-eclâmpsia ocorrem em cerca de 10% das gestantes, e podem resultar tanto em consequências para o bebê quanto complicações de pressão arterial e cardiovasculares crônicas para a mulher após o parto. Estudos já mostraram que o exercício físico durante a gravidez, realizado de forma adequada, diminui em cerca de 30% as chances desses problemas. Durante a gestação, o sistema cardiovascular passa por alterações fisiológicas que resultam no aumento do volume sanguíneo e dos batimentos cardíacos, quando há erro nas adaptações vasculares necessárias para suportar este estresse, ocorre a hipertensão arterial e a pré-eclâmpsia. Por meio da realização de estudos e testes, se mostrou que o exercício físico produz adaptações vasculares, promovendo o controle do tônus vascular, a indução de mediadores anti-inflamatórios importantes para o tecido endotelial, promovendo o equilíbrio da vasodilatação e vasoconstrição, e prevenindo a rigidez arterial.  Durante o período gestacional ocorrem diversas mudanças fisiológicas no corpo da mulher, uma destas é o aumento da secreção do hormônio do crescimento, que  diminui a sensibilidade do hormônio insulina e isso aumenta o índice de glicose na corrente sanguínea, o que pode acarretar no diabetes mellitus gestacional. O exercício físico atua na prevenção da doença através do controle de ganho de peso, que é um dos diversos fatores que podem potencializar o risco para o desenvolvimento de diabetes gestacional. O exercício físico também age diretamente na manutenção da glicemia, pois aumenta a sensibilidade dos músculos à insulina e, por consequência, resulta em um aumento da utilização de glicose no organismo, com isso, os níveis de açúcar na corrente sanguínea diminuem. Estudos mostraram que a prática regular de exercício físico durante a gestação diminui o risco de parto cesáreo e de parto vaginal operatório, além de reduzir significativamente o tempo de recuperação no pós-parto. Quando a mulher opta por realizar o parto normal, uma dica muito importante é realizar exercícios de fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico para prevenir o desenvolvimento de incontinência urinária que muitas mulheres adquirem no pós-parto.  Além dos benefícios para a mulher, há fortes indícios na literatura acadêmica da relação positiva do exercício físico materno na gestação com o neurodesenvolvimento do bebê. A formação de neurônios, células do nosso cérebro, inicia na terceira semana de gestação e estudos já comprovaram que o exercício físico no pré-natal e durante a gravidez induz um melhor neurodesenvolvimento, atuando na proliferação e maturação das células do sistema nervoso. O exercício gestacional age de forma positiva na aprendizagem e memória do bebê, melhora a cognição, estimula o córtex visual, estimula uma maior neuroproteção do feto para o estresse a agentes oxidantes, principalmente pelo fato de induzir a produção de moléculas neurotróficas, o que pode diminuir os riscos de desenvolver doenças neurodegenerativas na vida adulta. Estudos clínicos já relacionam o exercício físico materno com maior performance acadêmica da criança, principalmente em matemática e linguagem. O peso ao nascer é um indicador das condições ambientais uterinas em que o bebê se desenvolveu, um recém-nascido muito pequeno ou muito grande possui um alto vínculo com a predisposição ao desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis ao longo da vida, como diabetes e doenças cardiovasculares. Alguns estudos demonstraram que o sedentarismo no último trimestre gestacional está associado com o baixo peso do recém-nascido e, de forma complementar, pesquisas demonstram que o exercício físico durante a gravidez auxilia a normalizar o peso do bebê para um tamanho saudável ao nascer. Visto todos esses benefícios, o Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia recomenda que o exercício físico seja: aeróbico de 150 minutos semanais, em intensidade moderada-intensa, e reforço muscular, com o peso do próprio corpo e faixas elásticas, evitando pesos muito elevados e uso de equipamentos. É preciso tomar cuidado para que os batimentos cardíacos da gestante não ultrapassem 140bpm.  Os exercícios mais recomendados pelos médicos para a gestação, são: natação ou hidroginástica, caminhada e yoga ou pilates modificados para gestantes. Deve-se evitar exercícios que possam causar trauma mecânico - cair ou bater, alguns exemplos são: futebol, basquete, voleibol, handbol, surf, ciclismo, ginástica e esportes à cavalo. É importante ressaltar que exercício físico de alta intensidade e grande duração não são recomendados durante a gestação, assim como atividades que coloquem a gestante em posição supino, ou seja, deitada de barriga para cima, pois prejudica a circulação sanguínea até a placenta. Apesar de ser seguro exercitar-se na gestação, a gestante precisa estar atenta a alguns sinais de alerta e interromper o exercício, contactando imediatamente o seu médico obstetra, caso ocorra algum desses sinais: sangramento ou outros fluídos saindo pela vagina, sentir tontura, dor no peito e na cabeça, falta de ar antes de iniciar o exercício, fraqueza excessiva, dor ou inchaço na panturrilha e fortes contrações. É importante ressaltar que existem casos em que não é recomendado a realização de atividades físicas, principalmente se é uma gestação de risco ou com complicações, tais como problemas cardíacos e pulmonares, pré-eclâmpsia, gestação múltipla e anemia. Assim, quando há gravidez de risco, o médico obstetra deverá avaliar individualmente e orientar as mães quanto à possibilidade de realizar alguma atividade. Para concluirmos, o ideal é de que a mulher já faça exercício físico na pré-gestação, mas caso não seja possível, o importante é criar esse hábito durante a gravidez de forma progressiva e com acompanhamento profissional. Essa prática é essencial para uma gestação tranquila e com menos efeitos adversos na mulher, também é uma ótima estratégia para prevenir possíveis doenças futuras no bebê e melhorar o seu desenvolvimento, principalmente cerebral. O tipo de exercício físico, a duração, periodicidade e intensidade devem ser sempre ajustados para o período gestacional que a mulher está, além de ser acompanhado por um profissional da educação física e pelo médico obstetra.  Esperamos que vocês tenham gostado e até o próximo episódio!  Créditos:  Roteiro: Simone Edomenia Figueiredo Vargas, Bolsista BIPOP/UFRGS e Cristiane Matté, professora do Departamento de Bioquímica, ICBS/UFRGS, Presidente da Sociedade Regional DOHaD Latino-Americana. Revisão: Milena Boeng, bacharelada em Educação Física e especialista em musculação e condicionamento físico. Edição técnica: NAPEAD - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

EP. 4 / Nutrientes Necessários na Gestação

Âncora 4

Olá pessoal, hoje eu vim falar com vocês sobre um tema super importante: a dieta na gestação e os nutrientes essenciais. Durante a gestação, os nutrientes necessários para o desenvolvimento do bebê são consumidos na alimentação materna e transferidos para o filho através da placenta. Tudo o que a mãe consome tem potencial para chegar no bebê em desenvolvimento, por isso, é muito importante ter os devidos cuidados alimentares na gravidez. Muitas pesquisas na área do DOHaD (Origens Desenvolvimentistas da Saúde e da Doença) estudam a relação da nutrição materna no período gestacional com a saúde do bebê na infância e na vida adulta. Os hábitos da mãe, principalmente na alimentação, possuem grande impacto na modulação epigenética do bebê, e assim produzem adaptações no metabolismo e no seu desenvolvimento intrauterino. A ingestão inadequada de nutrientes durante a gestação afeta o ambiente intrauterino e pode programar o material genético do bebê para se adaptar neste ambiente adverso e, se não for compatível com a vida fora do útero após o nascimento, pode ocasionar doenças metabólicas crônicas não-transmissíveis na vida adulta, como diabetes e doenças cardiovasculares. A comunidade científica tem realizado muitos estudos sobre os primeiros mil dias do bebê - incluindo nove meses da gestação e os primeiros dois anos de vida - e a influência da alimentação na modulação epigenética da criança. Não significa que apenas esse período irá definir a probabilidade de aparecimento de doenças crônicas na vida adulta, mas certamente os primeiros 1000 dias de vida correspondem a um período de alta plasticidade do organismo, ou seja, ele pode reagir de forma mais intensa a diferentes nutrientes. Durante a gestação, o ganho de peso é perfeitamente normal e necessário, porém com variações conforme o índice de massa corporal - IMC da gestante, esse índice é calculado a partir do peso da pessoa dividido pelo quadrado da sua altura, e pode ser calculado por sites na internet ou em um consultório médico, as recomendações médicas do Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia, são: para mulheres com IMC baixo (menor que 18,5), o ganho de peso para um único filho é entre 12 e 18 kg, não constam dados sobre gestação múltipla; já para mulheres com IMC normal (de 18,5 a 25), os valores são 11 à 15 kg para gestação única e 16 à 24 kg para gêmeos; por fim, para IMC elevado (maior que 25), recomendam um ganho de 5 à 9 kg em gestação única e 11 à 12 kg para gestação múltipla. Esses valores se correlacionam com o peso do bebê, da placenta, do líquido amniótico e o aumento dos tecidos maternos - útero e mamas, por exemplo. Um peso muito inferior a esse pode resultar em problemas no desenvolvimento do feto, crescimento intrauterino restrito e problemas na neurocognição. No outro extremo, temos o excesso de ganho de peso gestacional, que também ocasiona complicações no desenvolvimento do bebê, além de ser um risco para a saúde da mulher. É indicado que a gestante tenha um acompanhamento por nutricionista durante a gestação, a fim de manter um ganho de peso ideal e saudável. É importante falarmos sobre a gravidez em mulheres que estão pensando em fazer, ou fizeram, a cirurgia bariátrica. Esse procedimento, também conhecido como redução de estômago, é recomendado em alguns casos de obesidade e consiste basicamente em diminuir o tamanho do estômago ou intestino delgado, o que dificulta a ingestão, digestão e/ou absorção dos alimentos, resultando em uma grande perda de peso em pouco tempo. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica recomenda que a mulher espere entre 12 e 18 meses para engravidar após realizar o procedimento e realizar toda a suplementação necessária dos nutrientes nesse período, pois, devido à redução de capacidade de ingerir e digerir alimentos, a nutrição da mulher fica em déficit por um tempo e pode causar desnutrição no bebê também, assim como restrição de crescimento uterino.  Agora sim começamos a falar sobre alguns dos nutrientes que são considerados essenciais durante a gestação.  Certamente você já ouviu falar da nossa primeira vitamina, que faz parte do complexo B e que deve ter sua suplementação iniciada ainda antes de engravidar, estou falando do folato - ou vitamina B9 - , é um dos suplementos obrigatórios desde a preparação da gestação até os primeiros dois trimestres gestacionais. Devido ao aumento de divisões celulares no desenvolvimento do feto, pois essa vitamina é uma coenzima no processo da formação do DNA e RNA, além de ser uma das coenzimas mais importantes para a metilação do DNA, uma modificação epigenética essencial durante o desenvolvimento embrionário e fetal intrauterino. É o folato que auxilia no desenvolvimento do tubo neural, estrutura que dará origem ao sistema nervoso do bebê, e sua deficiência está associada com parto prematuro, baixo peso ao nascer e na gestante pode ocasionar anemia megaloblástica e pré-eclâmpsia. As principais fontes alimentares do folato são vegetais verde escuros, ervilhas, grão de bico e feijão, além de farinhas e cereais fortificados. O ácido fólico é a forma sintética do folato e é mais comumente comercializado em suplementações. O organismo humano utiliza o folato na sua forma ativa, o metilfolato, e essa conversão de uma molécula para outra é realizada por uma coenzima chamada metiltetrahidrofolato-redutase. Algumas pessoas possuem um defeito congênito nessa enzima, e isto dificulta a conversão em metilfolato, sendo muitas vezes necessário fazer a suplementação na forma ativa ao invés do ácido fólico. É muito importante que a mulher converse com o seu médico sobre isso e faça os devidos testes antes de iniciar a gestação. Outro nutriente pertencente ao complexo B e que possui um papel muito importante no metabolismo é a vitamina B12. Ela é encontrada em alimentos de origem animal e este micronutriente é essencial em todas as fases da vida, porém, durante a gestação o organismo da mulher necessita de doses maiores dessa vitamina, devido às suas funções metabólicas no desenvolvimento do feto. Assim como o folato, a vitamina B12 é essencial no metabolismo como coenzima nas reações de metilação do DNA, de proteínas e lipídios. Pesquisas associaram o déficit de B12 materno com má formação neurológica do feto, falha na maturação de hemácias - células que carregam oxigênio pela circulação sanguínea -, falta de mielinização de fibras nervosas da medula espinal, baixo peso ao nascer, anemia perniciosa, problemas de cognição e resistência à insulina no bebê - consequentemente, maiores chances de desenvolver diabetes na vida adulta-, colesterol total e triglicerídeos altos e IMC elevado, podendo ocasionar obesidade. Para a saúde da gestante, carência de Vitamina B12 no primeiro trimestre gestacional está muito vinculada com pré-eclâmpsia, anemia macrocítica e comprometimento neurológico.  A maioria das pessoas já ouviu falar que é preciso pegar sol para produzir a Vitamina D, isso de fato é necessário, mas ela também pode ser consumida em maiores quantidades através de óleos de origem animal. Essa vitamina é necessária para a absorção do cálcio, magnésio e do fosfato. Os baixos níveis do micronutriente podem resultar em problemas do crescimento no bebê, raquitismo, enfraquecimento dos ossos, diabetes, doenças cardiovasculares, problemas psiquiátricos e doenças neuro-musculares.  O cálcio está presente em maior concentração nos derivados do leite e, em menor concentração, nas verduras verde-escuras. As concentrações de cálcio diminuem na gestação, então é importante prestar atenção nos níveis séricos desse elemento, visto sua importância para a formação dos ossos e dentes. Para a gestante, níveis adequados de cálcio diminuem as chances de desenvolver pré-eclâmpsia e parto prematuro. No bebê, a falta deste nutriente pode levar à convulsões e tetania, que é um distúrbio muscular que causa dores, contrações, paralisia e tremores.  O Zinco se encontra em ovos, mariscos e carne vermelha, nos alimentos derivados de plantas esse micronutriente está presente em quantidades muito baixas. Ele é extremamente necessário para o desenvolvimento imune e metabólico do bebê, por isso, durante a gestação a quantidade necessária de zinco aumenta. A deficiência do zinco está associada com abortos espontâneos, retardo do crescimento intra-uterino, anormalidades congênitas e parto prematuro.  Certamente vocês já ouviram falar que o ferro é essencial para o organismo e que a deficiência deste elemento causa anemia. Mas vocês sabiam que existem duas formas de ferro presentes na alimentação? Há o ferro heme, que está presente em carnes, peixes e aves, este subtipo da molécula é muito mais aproveitada e absorvida pelo nosso organismo; em contrapartida, o ferro não-heme, que se encontra nos vegetais como o feijão, possui uma biodisponibilidade muito baixa e acaba não sendo muito absorvido pelo intestino. Uma das estratégias para aumentar a absorção do ferro não-heme é comer alimentos com vitamina C na mesma refeição, por exemplo, laranja e bergamota. A deficiência de ferro na gestação, além da anemia, pode ocasionar parto prematuro, baixo peso ao nascer e afeta os neurotransmissores, comprometendo o desenvolvimento neurológico e cognitivo do bebê. A suplementação desse micronutriente é muito importante, principalmente no segundo e terceiro trimestre gestacional que é quando há um aumento do volume de sangue transportado para a placenta. A Vitamina A é encontrada também em alimentos de origem animal, principalmente em gemas de ovo, no leite e seus derivados. Porém, frutas e vegetais possuem esse micronutriente em sua forma de carotenóide e no nosso organismo se transforma na vitamina A. Esse nutriente é muito importante para o desenvolvimento influenciando na visão, no sistema imunológico e atuando como antioxidante. Porém, em excesso a vitamina A torna-se tóxica para o organismo, sendo teratogênica para o feto, principalmente nas primeiras semanas da gestação, sendo relacionado a casos de má formação dos bebês. O maior problema é com o excesso do ácido retinóico, que é um composto pertencente à classe da vitamina A e, em concentrações dentro do parâmetro recomendado, auxilia no desenvolvimento do coração, olhos e ouvidos do bebê. Porém, em excesso ele pode ocasionar no feto anomalias craniofaciais, do sistema nervoso central, cardiovasculares e hepáticas. A vitamina A é comercializada em muitos produtos de beleza devido ao seu efeito antioxidante, e o ácido retinóico está presente em medicamentos para tratamento de acne, por isso, é muito importante que além de cuidar dos nutrientes ingeridos pela alimentação ou suplementação, é necessário analisar os ingredientes de cosméticos utilizados durante uma gravidez. Então é preciso bastante atenção e orientação do seu médico obstetra quanto a essa vitamina. É importante falarmos que existe uma interação entre o metabolismo da vitamina A, do ferro e do zinco, um desses nutrientes quando está em carência pode prejudicar a absorção do outro micronutriente, isso pode gerar uma deficiência secundária como consequência. Ômega-3 é um grupo de moléculas composto por ácidos graxos poliinsaturados que está presente em grandes quantidades nos peixes de clima frio e em pouca quantidade nos ovos. As funções dele são extremamente importantes em todas as fases da vida, mas principalmente na gestação, pois essa gordura faz parte da estrutura das membranas celulares, é precursor de várias moléculas bioativas, auxilia na regulação da pressão arterial e atua como anti-inflamatório. Estudos já associaram o déficit de ômega-3 na gestação com problemas neurológicos e de desenvolvimento no bebê. Hoje ficamos por aqui, esperamos que vocês tenham gostado e esperamos vocês no próximo episódio, onde iremos complementar o tema de hoje com os cuidados alimentares necessários. Créditos: Roteiro: Simone Edomenia Figueiredo Vargas, Bolsista BIPOP/UFRGS e Cristiane Matté, professora do Departamento de Bioquímica, ICBS/UFRGS, Presidente da Sociedade Regional DOHaD Latino-Americana.​ Edição técnica: NAPEAD - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

EP. 5 / Cuidados Alimentares na Gestação

Âncora 5

Olá pessoal, tudo bem? Complementando o episódio anterior, hoje vamos falar sobre os cuidados na alimentação durante a gravidez, principalmente sobre o que evitar.  De início, o primeiro ponto importante para abordarmos é a higiene alimentar, ou seja, cuidados no manuseio, preparo e armazenamento da comida, pois é muito importante prevenir doenças gastrointestinais causadas por alimentos contaminados. Antes de qualquer coisa é essencial sempre lavar as mãos constantemente antes e após manusear alimentos. Se for colocá-los em uma superfície, é importante que essa esteja bem higienizada também. Frutas e legumes precisam ser bem lavados, e não basta apenas água corrente, é necessário utilizar detergente ou algumas gotas de água sanitária em um molho, depois sim realizar o enxágue com água corrente em abundância. Quando sobra alimentos de uma refeição, eles devem ser levados rapidamente para a geladeira, evitando a exposição da comida aos microorganismos, que se reproduzem muito mais lentamente na temperatura fria do interior da geladeira. Caso o resto de comida não seja consumida em até 2 dias, o ideal é congelar para garantir uma maior proteção. Quando for comprar alimento industrializado, é sempre importante verificar tanto a data de validade daquele item quanto o modo correto de conservação e sua validade após aberto, pois muitas vezes diminui drasticamente após a abertura da embalagem. É preciso tomar bastante cuidado com o consumo de carnes, ovos e peixes. Eles não podem estar crus ou mal cozidos para evitar a contaminação por bactérias, o indicado é cozinhá-los a uma temperatura superior a 70 graus Celsius ou utilizar a forma pasteurizada. As doenças mais perigosas que podem ocorrer com o consumo desses alimentos contaminados são: toxoplasmose e salmonelose. A infecção pelo parasita Toxoplasma gondii durante a gestação pode ocorrer pelo consumo de alimentos contaminados, como carne mal cozida ou crua, presunto cru e mariscos, e ocasiona diversos efeitos no feto, isso porque esse microorganismo tem a capacidade de atravessar a placenta. As consequências mais graves no bebê são hidrocefalia, microcefalia, convulsões, surdez e dificuldade no aprendizado; além do cuidado com os alimentos, é preciso prevenir também a contaminação da toxoplasmose através do contato de fezes de animais, principalmente gatos, evitando que a gestante faça a limpeza de caixas de areia, por exemplo, e caso não tenha ninguém para auxiliar, a mulher precisa lavar muito bem as mãos após o contato. Os ovos, quando consumidos crus, possuem maior risco de transmissão da bactéria Salmonella, que também é muito perigosa na gestação, há relatos de estudos em que a bactéria causa infecção no líquido amniótico em que o bebê se encontra e isso pode induzir um abordo espontâneo, parto prematuro ou nascimento com tamanho gestacional menor do que o normal, o recomendado é os ovos serem consumidos cozidos, ou então, comprar ovos pasteurizados. Outra dica importante é sempre lavar bem os ovos antes de utilizar, mas nunca lavar e guardar os ovos, pois esse processo pode facilitar a contaminação.  Os peixes são fontes de proteínas, vitaminas e gorduras essenciais, por exemplo o ômega-3, porém é necessário tomar cuidado em relação à contaminação com mercúrio. Esse metal é muito utilizado na indústria e descartado nos rejeitos nas águas de rios, mares e oceanos. No ambiente aquático, o mercúrio sofre transformações bioquímicas por microrganismos, se transforma em metilmercúrio, e acaba se acumulando nos animais marinhos, principalmente em peixes de grande porte como o atum. O metilmercúrio é um composto neurotóxico para os seres humanos, e na gestante ele tem a capacidade de se associar ao tecido nervoso, às hemácias - células da corrente sanguínea que transportam o oxigênio - , atravessa a barreira placentária, atinge o feto e causa problemas no seu desenvolvimento, pode inclusive resultar em alterações nos cromossomos do bebê. A sua facilidade de acesso é devido ao metilmercúrio ser solúvel em lipídios, encontrados nas membranas de células da placenta e do cérebro, por exemplo. Estudos científicos já associaram altas concentrações de metilmercúrio na gestação com problemas neurológicos no bebê, como por exemplo: atraso na fala, déficit no tônus muscular, surdez, crises convulsivas, problemas cardiovasculares na idade adulta e paralisia cerebral, quando em concentrações muito altas. Deve-se ter um cuidado especial ao consumir espécies marinhas que estão no topo da cadeia alimentar, pois normalmente acumulam mais metilmercúrio, além do atum, já citado, é recomendado não ingerir espadarte, tubarão (conhecido como cação), peixe-espada, garoupa, pirarucu, piranha, tucunaré, trairão e mandubé. Além das carnes, ovos e peixes, é preciso ter bastante cuidado com os alimentos não pasteurizados, como mel, queijo, iogurte, leite e demais laticínios. Quando for consumi-los é necessário verificar se são pasteurizados, pois caso não sejam, há risco de estarem contaminados pela bactéria Listeria - principalmente queijos de pasta mole, azul, gorgonzola, colonial, e leites não pasteurizados. Essa bactéria causa uma infecção chamada listeriose que pode causar aborto espontâneo, parto prematuro, baixo peso ao nascer e infecções neonatais. Quando o alimento contaminado pela Listeria é ingerido, ele atravessa a barreira intestinal, entra na corrente sanguínea e chega até a placenta.  Saindo da categoria de alimentos com origem animal, vamos falar um pouco dos polifenóis, que são moléculas com compostos antioxidantes e anti-inflamatórios. Alguns exemplos de alimentos que possuem polifenóis são: chimarrão, chocolate amargo, frutas cítricas, uvas, frutas vermelhas, maçã e óleo de oliva. No terceiro trimestre gestacional, não é indicado consumir altas quantidades desses alimentos com altos níveis de polifenóis, isso porque há estudos que associam essas moléculas com alterações na constrição do ducto arterioso do feto, prejudicando seu sistema circulatório e respiratório. Converse com seu obstetra e nutricionista para buscar um equilíbrio entre alimentação saudável e conteúdo de polifenois nessa fase gestacional. Uma das perguntas que provavelmente muitos médicos obstetras escutam é: “pode tomar um cafezinho durante a gestação?”. Quando ouvimos falar sobre cafeína, o que vem nos nossos pensamentos é o café, porém é importante ressaltar que a cafeína é uma molécula que age no Sistema Nervoso Central e é encontrada em diversas plantas, estando presente em outros alimentos além do café, como por exemplo alguns refrigerantes, energéticos, chocolates, chás (principalmente o mate) e até mesmo em medicamentos. Mas respondendo a pergunta inicial: a Associação Americana de Obstetrícia e Ginecologia recomenda que o consumo de cafeína na gestação não ultrapasse 200mg/dia, porém, alguns profissionais são contra o consumo de alimentos que contenham a cafeína ao longo do período gestacional. Essa preocupação com a cafeína se deve ao fato de que um dos seus efeitos é a vasoconstrição dos vasos sanguíneos do útero e da placenta, podendo levar à hipóxia fetal, e como consequência isso pode resultar em aborto espontâneo, restrição de crescimento intrauterino, ruptura precoce das membranas, nascimento prematuro e malformações no bebê. Além disso, a concentração de cafeína no organismo fetal é preocupante pois não é excretada com a mesma eficiência e rapidez que ocorre nos adultos, então o bebê fica exposto por um período muito maior, e isso potencializa seus efeitos adversos. Por último, vamos falar um pouco sobre as dietas vegetariana e vegana. A vegetariana se subdivide conforme o nível de restrição dos alimentos de origem animal: ovolactovegetarianos não consomem nenhum tipo de carne animal; lactovegetarianos além de não consumirem carnes, também não comem ovos e derivados; vegetarianos estritos não comem carnes, ovos, leites e seus derivados, por exemplo, queijo e iogurte. Na dieta vegana há as mesmas restrições da vegetariana estrita, porém os veganos também adotam um estilo de vida em que não há o uso de componentes relacionados aos maus-tratos de animais, por exemplo, vestimentas e produtos de beleza que são testados em seres vivos.  Ambos os tipos de alimentação chamam a atenção de médicos, nutricionistas e pesquisadores devido ao déficit de alguns nutrientes de origem animal, por exemplo: vitamina A, vitamina B12, vitamina D, Cálcio, Ferro, Zinco e ômega 3. A falta destes nutrientes durante a gestação está associada com a predisposição do bebê de desenvolver doenças na idade adulta, tais como: doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes mellitus e atraso no neurodesenvolvimento, conforme comentamos no episódio anterior. É importante falarmos que a deficiência destes nutrientes podem ocorrer até mesmo em dietas sem restrições de alimentos de origem animal e, por isso, é aconselhado procurar um profissional de saúde mesmo não sendo vegetariana ou vegana, pois uma alimentação não balanceada pode prejudicar a saúde da mãe e o desenvolvimento do bebê. A Associação Dietética Americana se posicionou dizendo que uma dieta vegetariana ou vegana, se for bem planejada, acompanhada por um profissional capacitado e com suporte de suplementos alimentares, não é contra-indicada em nenhum estágio da vida, inclusive na gestação.  Esperamos que tenham gostado e até a próxima!

EP. 6 / Uso de Álcool e Outras Substâncias

Âncora 6

Olá pessoal. Neste episódio falaremos sobre o uso do álcool e outras drogas na gestação, como o tabaco, cigarro eletrônico e cannabis. Começaremos pela bebida alcóolica. Quando a gestante consome alguma bebida alcoólica, o álcool consegue passar da sua corrente sanguínea para a placenta até chegar na corrente sanguínea do bebê em desenvolvimento, alcançando as mesmas concentrações do sangue materno. Porém, o impacto da exposição do feto ao álcool acaba sendo muito maior, pois o seu sistema de metabolização e excreção não é muito eficiente, dessa forma, o álcool, chamado de  etanol, e seus derivados metabólicos na forma de acetaldeído, permanecem mais tempo no líquido amniótico e no organismo do bebê, podendo atravessar a barreira entre a corrente sanguínea e o cérebro e, com isso, causar danos nos neurônios, resultando em problemas no neurodesenvolvimento fetal. O metabolismo do álcool, chamado de etanol e de seu metabólito, o acetaldeído, induzem a formação de radicais livres de oxigênio no organismo do bebê. Essas moléculas são instáveis devido à sua estrutura eletroquímica e isso faz com que, ao entrarem em contato com algumas moléculas essenciais para as células, consiga modificá-las e isso prejudica sua atividade e função. Nesse caso específico do desenvolvimento fetal, a consequência é que os radicais livres conseguem danificar moléculas de DNA, proteínas e lipídios, induzindo morte celular e prejudicando a neurogênese, que é o nascimento de novos neurônios, e a angiogênese, que é a formação de vasos sanguíneos, consequentemente, isso tudo atrapalha o desenvolvimento normal do cérebro e da medula espinhal. As consequências do uso de álcool durante a gravidez vão desde complicações gestacionais, como aumento no risco de: aborto espontâneo, infecções na hora do parto, nascimento prematuro, deslocamento da placenta e hipóxia (baixa concentração de oxigênio sendo distribuído para os tecidos) até consequências no desenvolvimento do bebê ao longo de sua vida pós-natal. O termo “desordens do espectro alcoólico fetal” abrange as alterações físicas, mentais, comportamentais e de aprendizado resultantes da ingestão de bebida alcoólica durante o período gestacional, além da grande chance de o bebê nascer com microcefalia ou microencefalia, devido à diminuição do crescimento cerebral como consequência do álcool. Dentro das desordens do espectro alcoólico fetal, há subdivisões, são elas: A Síndrome Alcoólica Fetal, os Defeitos Congênitos Relacionados ao Álcool  e às Desordens de Neurodesenvolvimento Relacionadas ao Álcool . A Síndrome Alcoólica Fetal possui como principais características: dismorfias faciais, problemas de crescimento e anormalidades do Sistema Nervoso Central.  Os Defeitos Congênitos Relacionados ao Álcool podem resultar ou não em dismorfias faciais, e é mais característico que se desenvolvam problemas estruturais nos sistemas cardíaco, esquelético, renal e ocular. Por último, as Desordens de Neurodesenvolvimento Relacionadas ao Álcool são caracterizadas por poucas alterações morfológicas, sendo mais evidente anormalidades comportamentais e cognitivas. Até o momento, não há conhecimento de nível seguro do consumo de álcool para o bebê, a indicação é que a gestante não faça uso de bebidas alcóolicas. Inclusive, é necessário fazer um alerta sobre as bebidas intituladas “Zero álcool”. Elas podem apresentar até 0,5% de álcool na sua composição, e como já falamos, não há nenhum nível seguro de consumo, dessa forma os especialistas recomendam não consumir essas bebidas durante a gestação.   Infelizmente, outro hábito comum na sociedade é fumar cigarro, e além dos efeitos deletérios à saúde da fumante, quando o usuário é uma mulher grávida esse hábito acaba impactando diretamente a gestação e o bebê em desenvolvimento, principalmente devido às moléculas de nicotina e ao monóxido de carbono. Fumar tabaco na gestação pode ocasionar aborto espontâneo, pois associado ao efeito dos compostos tóxicos presentes no cigarro que diminuem a capacidade imunológica do organismo, aumentam o risco de uma ruptura prematura das membranas na placenta. O tabaco também pode ocasionar outras complicações gestacionais, por exemplo: gravidez ectópica - quando o embrião se instala fora do útero -, parto prematuro, restrição de crescimento intrauterino e malformações congênitas, além de síndrome da morte súbita do bebê. A nicotina, uma das substâncias tóxicas presente no tabaco, atravessa a membrana da placenta e atinge o sistema cardiovascular do feto, causando taquicardia, constrição dos vasos sanguíneos periféricos e diminuição do fluxo de oxigênio, e afeta também o sistema nervoso central, agindo na degradação de neurotransmissores específicos que podem acarretar em distúrbios  psicomotores. Somado a isto, o oxigênio é carregado pelo sangue e distribuído ao organismo através das hemácias, ligando-se a uma proteína no seu interior chamada de hemoglobina. Porém, o monóxido de carbono na corrente sanguínea compete com o oxigênio pela ligação à hemoglobina, e acaba vencendo pois possui maior afinidade com essa proteína. Assim, o oxigênio é deslocado da ligação com a hemoglobina e as hemácias não conseguem levar o oxigênio para os órgãos, resultando em uma hipóxia, complicação que é um fator de risco para a restrição de crescimento intrauterino e em alguns casos pode resultar também em infarto cerebral do feto. Outro fator agravante para hipóxia é o fato de o tabaco induzir um processo inflamatório no tecido endotelial, ocasionando a ruptura de vasos sanguíneos da placenta e menor distribuição de oxigênio para o feto. A exposição do feto aos componentes tóxicos do tabaco dificulta o desenvolvimento dos pulmões e reduz as vias aéreas, atrapalhando o funcionamento eficiente do sistema respiratório, isso resulta em problemas respiratórios no bebê e que podem se estender por toda sua vida adulta. Além disso, estudos em animais associaram o tabagismo a alterações no metabolismo da glicose materna, podendo estar associado com casos de diabetes gestacional, e no bebê aumentar as chances de desenvolver diabetes na vida adulta.  Atualmente, muitas pessoas consideram o cigarro eletrônico como uma opção mais segura quando comparado ao convencional, porém alguns estudos recentes já comprovaram que o cigarro eletrônico trás sim prejuízos para o indivíduo. Se a fumante de cigarro eletrônico for uma mulher gestante, afeta o bebê também. É importante ressaltar que, muitas vezes, o cigarro eletrônico pode conter mais nicotina do que o convencional, e assim ser mais prejudicial à gestante e ao bebê.  A boa notícia é que  alguns estudos clínicos mostraram que quando a mulher consegue parar de fumar ao descobrir a gestação, nas semanas iniciais, a redução de riscos e danos para o desenvolvimento do bebê é bastante significativa.  No Brasil, o uso de cannabis - mais conhecida como maconha - é ilegal, porém há estatísticas que mostram o alto uso dessa substância e, por causa disso, alguns estudos e pesquisas investigam os efeitos do uso durante a gestação. O cannabis possui em média 500 compostos químicos, a maioria ainda com suas propriedades desconhecidas, porém sabe-se que um dos princípios ativos do cannabis é o THC - Tetraidrocanabinol, e esse composto foi associado com dificuldade de engravidar, efeitos negativos durante a gestação, e possui a capacidade de atravessar a barreira placentária e afetar o desenvolvimento do feto. O THC interage com as células do corpo humano através de receptores endocanabinoides CB1- encontrado principalmente no sistema nervoso central, nos pulmões, fígado e rins - e o CB2 - encontrado em grande quantidade no sistema imunológico e no sistema hematopoiético, que é responsável pela produção de células novas. Sobre a fertilidade, o THC age através dos receptores CB1 que desregulam o sistema endócrino do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, afetando a produção dos hormônios sexuais e consequentemente a ovulação, e através dos receptores de CB2 presentes nos ovários, que acabam acarretando em falhas na fecundação, essa consequência foi fortalecida por um estudo em animais que demonstrou que a ativação dos receptores CB2 dificulta a ação de contração e relaxamento dentro do sistema reprodutor feminino, esses movimentos são essenciais para a fixação do zigoto no endométrio, há o risco inclusive de acontecer uma gravidez ectópica, e isso além de ser doloroso para a gestante, impede o desenvolvimento do bebê. Um estudo que coletou amostras de sangue de mulheres que tiveram gravidez normal e de mulheres que tiveram a gestação ectópica,  concluiu que neste segundo grupo havia maiores níveis de endocanabinoides do que amostras de mulheres com gestações normais. Outras consequências gestacionais que podem ser resultado do uso de cannabis são: restrição de crescimento intrauterino, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Durante o desenvolvimento do feto no útero, a presença do THC afeta diretamente o sistema nervoso que está sendo formado, isso ocorre porque os receptores para esses compostos químicos interferem na proliferação celular, na diferenciação e na migração. Isso acaba atrapalhando o neurodesenvolvimento do feto, podendo levar a consequências permanentes para o bebê, inclusive disfunções cognitivas devido a essa má formação cerebral. Um estudo que utilizou roedores como modelo constatou que os filhotes de mães que foram submetidas à administração de THC durante a gestação nasceram com defeitos no citoesqueleto dos neurônios, essa estrutura é fundamental tanto para determinar a forma das células, quanto na separação dos cromossomos durante a divisão celular, essa interferência pode resultar em problemas neurológicos durante a vida. Se a gestante utiliza de fármacos em que há compostos derivados do cannabis, receitado pelo médico, é muito importante que leve isso para consulta ao obstetra, assim como todas as medicações que faz uso, como iremos comentar no próximo episódio. Esperamos que vocês tenham gostado e não percam nosso próximo capítulo! Créditos: Roteiro: Simone Edomenia Figueiredo Vargas, Bolsista BIPOP/UFRGS e Cristiane Matté, professora do Departamento de Bioquímica, ICBS/UFRGS, Presidente da Sociedade Regional DOHaD Latino-Americana. Produção técnica: NAPEAD - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

EP. 7 / Medicamentos na Gestação

Âncora 7

Oi pessoal, no episódio de hoje falaremos sobre o uso de medicamentos na gestação. Esse é um tópico que gera muitas dúvidas e o aconselhado é jamais fazer automedicação, principalmente se estiver gestante. Quando for receitado algum medicamento por um médico que não seja o seu obstetra, é essencial avisar que está grávida, pois muitos medicamentos podem interferir negativamente no desenvolvimento do bebê. Um clássico exemplo do porque é necessário ter cuidado com medicações, é o caso da talidomida, um medicamento comercializado entre os anos 1950 - 1960 como seguro para diversas patologias, até mesmo gripe. Houveram diversos relatos de efeitos colaterais sérios em pacientes que faziam uso desse medicamento, até que começaram a ser divulgados casos de teratogênese em bebês cujas mães tomaram talidomida durante a gestação para tratar as náuseas. As malformações congênitas eram caracterizadas por afetarem principalmente os ossos dos braços, mãos, pernas e pés. Esses incidentes foram essenciais para estabelecer critérios mais rigorosos no desenvolvimento de medicamentos e também para que haja mais cautela quando é indicado medicamentos para gestantes. No Brasil, a ANVISA exige que todos os medicamentos contraindicados para gestantes estejam no item "QUANDO NÃO DEVO USAR ESTE MEDICAMENTO?" e também no item “O QUE DEVO SABER ANTES DE USAR ESTE MEDICAMENTO?" nas informações ao paciente. Iremos abordar alguns dos medicamentos avaliados em pesquisas como os mais comuns utilizados mundialmente e que podem induzir consequências adversas para a gestante e para o feto. Começando pelos medicamentos para dor, o paracetamol é um dos antitérmicos e analgésicos mais comumente utilizados. Mas é preciso estar atento na gestação, já que alguns estudos clínicos e epidemiológicos apontaram para o risco desse medicamento ocasionar parto prematuro, baixo peso ao nascer, afetar o desenvolvimento neurológico, incluindo problemas motores e cognitivos, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno do espectro autismo, anomalias urogenitais e problemas reprodutivos. O paracetamol possui a capacidade de atravessar as membranas protetoras da placenta e agir no sistema nervoso central do feto, alterando seu desenvolvimento. Um estudo concluiu que o uso dessa medicação durante 1 a 3 dias, não acarretou em efeitos significativos na produção de testosterona nos bebês do sexo masculino, enquanto que o tratamento de 7 dias demonstrou alterações da testosterona. Em bebês do sexo feminino, o uso de paracetamol na gestação foi vinculado a problemas nos ovários. Para a gestante, o uso desse fármaco está sendo associado com o aumento do risco de desenvolvimento de pré-eclâmpsia, trombose venosa e problemas pulmonares. Apesar de tudo isso, os estudos e pesquisas sobre o paracetamol seguem em análise e, até o momento, esse medicamento não é considerado teratogênico. Outro fármaco muito utilizado para tratamento de dores e febre é a dipirona. Alguns estudos associaram altas doses dessa medicação durante a gestação com o desenvolvimento de leucemia linfoblástica infantil, que é um tipo de câncer de células de defesa do nosso sistema imune, os linfócitos, que acabam não exercendo sua função adequadamente. Porém, há poucos estudos sobre essa relação da dipirona com a leucemia, trabalhos mais profundos e consistentes necessitam ser realizados. Os medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) também são de uso muito comum entre a população, por exemplo: ibuprofeno, diclofenaco, ácido acetilsalicílico, piroxicam e o naproxeno. Todos estes possuem como mecanismo de ação a inibição de enzimas cicloxigenases. Alguns estudos em animais e análises de casos clínicos em humanos, demonstraram que a inibição dessas enzimas interfere na ovulação, fertilização, implantação e formação da placenta, e por consequência interfere na fertilidade da mulher e, nas primeiras semanas gestacionais, pode até mesmo induzir ao aborto espontâneo. Quando a gestante toma essa classe de fármacos no terceiro trimestre, há o risco do bebê desenvolver problemas cardíacos, com maior probabilidade de fechamento prematuro do ducto arterial, que é um canal que auxilia na circulação sanguínea fetal mas que se fecha nas primeiras horas após o nascimento. O fechamento precoce do ducto arterioso pode ser induzido pela inibição da síntese de prostaglandinas pelas enzimas cicloxigenases, induzido pelos AINEs. Além de problemas cardiovasculares, o uso desses medicamentos pode também causar problemas renais no bebê, visto que a partir do segundo trimestre o sistema urinário começa a se desenvolver e a inibição da síntese de prostaglandinas interfere na formação das estruturas renais. Um estudo realizado com ratos demonstrou que os filhotes originados de mães em que receberam inibidores de prostaglandinas na gestação, nasceram com rins pequenos e contendo menos néfrons - que são estruturas funcionais renais, que atuam na formação de urina. É importante lembrar que estudos em animais muitas vezes são essenciais para que possamos descobrir o efeito de medicamentos e outras substâncias sobre o organismo, já que esses estudos não podem ser realizados em mulheres gestantes por questões éticas. Mas é essencial ter cuidado na utilização desses dados, pois nem sempre se confirmam em humanos, e assim devemos pensar neles como evidências científicas e pesar bem sua significância biológica. Durante a gestação um dos sintomas muito comuns e que causam desconforto é a náusea. Para diminuir os episódios de desconforto o recomendado é ingerir alimentos leves, evitar comida gordurosa, preferir alimentos gelados e se hidratar bastante. Porém, se esses cuidados não adiantarem para diminuir a náusea, um antiemético pode ajudar, nesse caso é importante ver com o médico obstetra quais medicações são seguras. O medicamento ondansetrona não deve ser utilizado pois estudos associaram o seu uso com defeitos orofaciais em recém-nascidos. Atualmente, os antieméticos que parecem não interferir no desenvolvimento do bebê são: dimenidrato, cloridrato de metoclopramida e gengimin. Durante o período gestacional podem haver infecções em que seja necessário o uso de antibióticos para ajudar no combate dos patógenos. Por exemplo, a infecção urinária é muito comum na gestação pois durante esse período há muitas mudanças fisiológicas no corpo da mulher que resultam em uma proliferação de bactérias no trato urinário feminino e se não for tratada adequadamente a infecção pode afetar a gravidez. As fluoroquinolonas, por exemplo, ciprofloxacino e norfloxacino, são contra-indicados na gravidez, pois podem estar relacionadas com defeitos cardíacos, toxicidade renal, defeitos no neurodesenvolvimento e afetam o sistema esquelético. A tetraciclina é outro antibiótico que não deve ser utilizado por gestantes, pois ele se liga ao cálcio do feto e causa danos nos ossos e dentes. Os medicamentos linezolida e tedizolida são teratogênicos para o embrião. A penicilina e seus derivados, como a amoxicilina, apesar de atravessarem a barreira placentária são consideradas seguras para tratamento durante a gestação. Os antibióticos derivados de cefamicinas também são seguros. Existem diversos antibióticos disponíveis para tratar infecções e eu citei apenas os mais comuns, mas esse tipo de medicação deve ser sempre feita com cautela e direcionamento do médico obstetra para avaliar os riscos e benefícios em cada caso individual. Outra classe de medicamentos que está cada vez mais comum de serem utilizados são os antidepressivos, alguns estudos indicam que os fármacos inibidores da recaptação da serotonina, como fluoxetina, podem prejudicar o sistema cardiovascular do feto, alterando o metabolismo da serotonina, um neurotransmissor essencial para a diferenciação celular das células cardíacas e para formação dos septos, além disso, há também risco de insuficiência pulmonar e outros problemas respiratórios. Quero ressaltar que os antidepressivos não podem ser retirados bruscamente do organismo, isso pode ocasionar muitos efeitos adversos negativos na mulher. No caso da mulher usar esse tipo de antidepressivo e engravidar, o recomendado é informar ao médico obstetra e ao psiquiatra para analisarem a possibilidade de alteração da medicação. Medicamentos derivados do ácido valproico, por exemplo valproato e depakene, indicados para tratamento de epilepsia também são teratogênicos, atuando principalmente na disfunção cognitiva, defeitos congênitos e malformação do tubo neural do feto. Mas e aqueles medicamentos para controle de doenças crônicas e que não podem ser interrompidos na gestação? Começando pela diabetes, tanto a pré-existente quanto a diabetes gestacional possuem como fármaco principal utilizado para o controle da doença a insulina injetável, e ela é considerada segura durante a gestação, porém há também os medicamentos orais que são subdivididos de acordo com seu mecanismo de ação: os que estimulam a secreção da insulina no pâncreas, os que aumentam a sensibilidade do organismo à insulina e os que atrasam a absorção da glicose pelo intestino. Os medicamentos que estimulam o pâncreas a secretar a insulina são normalmente da classe de sulfonilureias, por exemplo a glibenclamida, e não são indicados na gestação, pois os fármacos dessa linha conseguem atravessar a barreira placentária e atingir a corrente sanguínea do feto, afetando os níveis de glicose do bebê, causando uma hipoglicemia e atrapalhando o seu desenvolvimento, podendo inclusive resultar em macrossomia (peso ao nascer acima de 4kg), dificuldade respiratória, aumento no risco de internação em UTI neonatal e natimortos. Os fármacos que retardam a absorção da glicose pelo intestino são os inibidores da alfa-glicosidase, por exemplo, a acarbose. Em um estudo utilizando modelo animal, esse medicamento foi encontrado em concentrações muito mais altas na prole de ratos do que no sangue materno, e há poucos estudos sobre as consequências em longo prazo nos fetos, por isso não é recomendado que a acarbose seja utilizada na gestação. Os medicamentos com princípio ativo que aumentam a sensibilidade do organismo à insulina podem ser da classe de biguanidas, que é o caso da metformina, muito utilizada por gestantes com diabetes mellitus. Esse medicamento não mostrou nenhum efeito teratogênico ou má formação congênita no feto em estudos com modelos animais, porém mais pesquisas precisam ser feitas antes de considerá-lo seguro na gestação, principalmente por também ser uma substância que atravessa a placenta e por ser capaz de interferir no desenvolvimento do bebê, alguns estudos associam o uso da metformina com sobrepeso e obesidade na prole. É muito importante também avaliar a função renal, cardíaca e pulmonar da mulher antes de iniciar o tratamento com a metformina. Comparando os três fármacos orais citados para controle de diabetes, a metformina é a mais recomendada para uso na gestação, com base nos estudos disponíveis até o momento. Outra doença que precisa de medicação contínua é a hipertensão arterial, seja ela pré-existente ou adquirida na gestação. É necessário estar atento à pressão arterial para que não desencadeie pré-eclâmpsia. Os dois principais tipos de medicamentos anti-hipertensivos que não devem ser utilizados durante a gestação são os que possuem como mecanismo de ação a inibição da enzima de conversão da angiotensina ou os bloqueadores do receptor da angiotensina II. Os fármacos inibidores da enzima conversora da angiotensina, por exemplo o captopril, e os bloqueadores do receptor da angiotensina II, por exemplo a losartana, estão relacionados à alta taxa de aborto espontâneo e de problemas no desenvolvimento fetal, principalmente insuficiência renal, displasia renal, hipotensão, oligohidrâmnios, hipoplasia pulmonar, hipocalvaria, restrição de crescimento intrauterino e risco de mortalidade. O princípio ativo desses medicamentos consegue atravessar a barreira placentária e ambos interferem no sistema renina-angiotensina que é necessário para o desenvolvimento dos rins do feto. Além disso, o uso desse fármaco também está associado com má formação no sistema cardiovascular e no sistema nervoso central. Os medicamentos para hipertensão arterial que são considerados seguros na gestação são metildopa, labetalol e nifedipina. A troca de medicamentos deve ser feita apenas com indicação médica, é muito importante seguir as recomendações do seu obstetra à risca. Por último, é comum que no primeiro trimestre gestacional a mulher apresente alterações na sua tireoide, porque os hormônios produzidos por essa glândula são necessários para o desenvolvimento do embrião e, com isso, a tireoide da gestante precisa suprir as suas necessidades fisiológicas e as do feto. Tanto o hipotireoidismo - deficiência da produção de hormônios T3 e T4, quanto o hipertireoidismo - excesso da produção destes hormônios, precisam ser acompanhados durante a gestação, para evitar o risco de hipertensão gestacional, pré eclâmpsia, placenta prévia, anemia, aborto espontâneo, prematuridade e baixo peso ao nascer. Em casos de problemas tireoidianos pré-existentes à gestação, é necessário avisar o médico endocrinologista pois muitas vezes é necessário fazer uma substituição de medicação para não afetar o bebê no útero. Créditos: Roteiro: Simone Edomenia Figueiredo Vargas, Bolsista BIPOP/UFRGS e Cristiane Matté, professora do Departamento de Bioquímica, ICBS/UFRGS, Presidente da Presidente da Sociedade Regional DOHaD Latino-Americana. Esse roteiro contou com a revisão da Farmacêutica MSc. Aline Matté. Produção técnica: NAPEAD - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

EP. 8 / Estresse na Gestação

Âncora 8

Olá pessoal, hoje nós vamos falar sobre como o estresse materno durante a gestação pode impactar o desenvolvimento do feto e ter um reflexo na sua saúde ao longo da vida. É quase inevitável não se estressar ou ficar ansioso ao longo da vida, durante a gestação essas e outras emoções podem ser intensificadas, resultando em ansiedade excessiva. Os motivos mais comuns de estresse são desconforto físico, mudanças hormonais durante a gestação, doenças gestacionais, mas também podem estar associados a fatores psicológicos, como por exemplo: mudança de rotina, pouco ou nenhum suporte de familiares e amigos, dificuldades financeiras, gravidez não planejada e preocupações futuras. Dependendo do motivo do estresse e da sua duração, ele pode ser agudo ou crônico. É importante entendermos que o estresse exacerbado durante o período gestacional pode prejudicar a saúde do feto, principalmente se for crônico. Isso ocorre, pois ao longo do seu desenvolvimento no útero, o bebê recebe sinais do ambiente em que ele nascerá, através da modulação hormonal materna. Esses sinais externos modulam o epigenoma do bebê, preparando-o para esse ambiente de estresse. Mas, como afinal uma emoção pode interferir no desenvolvimento humano? Bem, o estresse desregula o eixo Hipotálamo- Pituitária- Adrenal, o eixo HPA, que controla muitas funções no organismo, e seu desequilíbrio pode afetar tanto a saúde da mulher que está gestante quanto do feto em formação. O hipotálamo é uma estrutura que pertence ao sistema nervoso central e produz hormônios que regulam a atividade da pituitária, também chamada de hipófise. Essa glândula é responsável por regular a maior parte das outras glândulas endócrinas do corpo humano. A Adrenal, ou supra-renal, é uma dessas glândulas que recebe sinalização da pituitária, e entre os hormônios que ela secreta estão o cortisol e a adrenalina, ambos são muito importantes na resposta ao estresse no corpo humano. O cortisol afeta principalmente o sistema imunológico, interferindo na produção de citocinas inflamatórias e, com isso, impedindo que as células de defesa combatam com eficácia os patógenos. A adrenalina desencadeia uma resposta rápida do corpo ao estresse, o que chamamos de “luta ou fuga”, e isso desencadeia várias reações em diferentes órgãos do corpo. Estes dois hormônios são complementares na resposta ao estresse e preparam o organismo para situações de perigo. O estresse exacerbado resulta em um excesso de cortisol e adrenalina, isso mantém o organismo em constante desequilíbrio metabólico. Essa desregulação hormonal e aumento das citocinas interferem na metilação do DNA do feto, um dos marcadores epigenéticos, resultando na alteração química de algumas bases nitrogenadas do DNA, mas sem interferir na sequência dos nucleotídeos, ou seja no gene em si. Esse processo regula a expressão dos genes, ativando ou desativando-os, e assim aumentando ou reduzindo a síntese de proteínas, o que afeta o metabolismo. Como consequência dessas alterações epigenéticas, podem ocorrer parto prematuro e baixo peso ao nascer. Durante o estresse materno gestacional, a glândula adrenal aumenta os níveis de adrenalina e isso resulta no aumento da resistência da artéria uterina, diminuindo assim o fluxo sanguíneo para o feto, resultando na diminuição de nutrientes que chegam até o feto, incluindo oxigênio. A hipóxia causa restrição de crescimento intrauterino, induzindo o trabalho de parto prematuro, e baixo peso ao nascer. A liberação do hormônio cortisol pela glândula adrenal materna chega até a placenta, mas para que essa substância não desregule o eixo HPA fetal, a placenta possui uma enzima chamada “11beta-hidroxiesteroide-desidrogenase 2”, que transforma o cortisol em cortisona, uma molécula inativa. Porém, o estresse materno pode resultar na inibição dessa enzima, expondo o bebê ao cortisol materno. O cortisol induz aumento de citocinas inflamatórias e ambas substâncias atrapalham o desenvolvimento do feto, interferindo principalmente no sistema nervoso, sistema imunológico, nas funções metabólicas e na organogênese (formação dos órgãos). Tendo como alvo o sistema nervoso central do feto, nesse momento de alta plasticidade cerebral, o cortisol pode causar mudanças anatômicas dos hemisférios cerebrais e restrição de crescimento, resultando em prejuízos ao longo da vida, como déficit de atenção, hiperatividade, problemas emocionais - incluindo depressão e ansiedade -, esquizofrenia e autismo. O sistema respiratório do bebê também é afetado pelo estresse gestacional devido à alta plasticidade dos pulmões, estando associado ao aumento da prevalência de asma da infância e idade adulta. O estresse materno durante o período gestacional também pode impactar a microbiota intestinal do bebê. A microbiota intestinal é a relação de todos os microrganismos que habitam o intestino humano, incluindo bactérias, vírus, fungos e protozoários. Essa interação é necessária por diversos motivos, beneficia a digestão e absorção de nutrientes, atua na imunidade e no sistema endócrino. Uma alteração nessa comunidade, chamada de disbiose, pode resultar em doenças para o indivíduo. Durante a gestação, a microbiota materna auxilia na liberação de energia dos alimentos para o feto, ajudando no crescimento intrauterino. Estudos realizados com animais relataram que a prole de mães que foram submetidas ao estresse na gestação, nasceram com uma microbiota distinta quando comparada aos filhotes de fêmeas que não foram submetidas ao estresse. Nesses estudos, houve um aumento principalmente de bactérias do filo Proteobacteria, que estão relacionadas a casos de enterocolite necrosante no recém-nascido. De forma complementar, estudos em humanos relacionam a disbiose materna na gestação com problemas metabólicos e neurológicos no bebê. Agora que vimos a importância de cuidar do estresse durante a gestação, separamos algumas dicas para manejá-lo e diminuir os impactos, são elas: fazer atividade física, psicoterapia, dormir bem e praticar mindfulness, que são técnicas para se conectar ao presente, as formas mais comuns de praticar isso são por meditação, técnicas de respiração guiada e yoga. Um estudo de revisão sistemática e meta-análise estudou o impacto do mindfulness na diminuição do estresse, depressão e ansiedade durante a gestação, os resultados mostraram que essa técnica diminui significativamente os sintomas analisados. Créditos: Roteiro: Simone Edomenia Figueiredo Vargas, Bolsista BIPOP/UFRGS e Cristiane Matté, professora do Departamento de Bioquímica, ICBS/UFRGS, Presidente da Sociedade Regional DOHaD Latino-Americana. Edição técnica: NAPEAD - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

EP. 9 / Infecções na Gestação

Âncora 9

Olá pessoal. Hoje nós iremos abordar um tema que causa preocupação às futuras mamães: infecções durante a gestação e suas consequências para a saúde da mulher e do bebê. Uma vez que a utilização de medicamentos é bastante restrita na gestação, é muito importante se precaver contra infecções, e nada melhor que conhecimento para evitar a contaminação. Primeiro falaremos do tipo de infecção mais comum durante esse período gestacional, a infecção urinária, que é causada pela proliferação excessiva de bactérias no trato urinário e pode ser tanto do trato urinário inferior (conhecida como cistite) quanto do superior (conhecida como pielonefrite). As mudanças anatômicas e fisiológicas no corpo da mulher durante a gestação aumentam a predisposição a infecções urinárias, isso ocorre principalmente devido ao aumento do hormônio progesterona nesse período e também da compressão da bexiga pelo útero. Essas infecções estão muito associadas a complicações para a gestante, como infecção generalizada, coágulo intravascular, endometrites (inflamação no endométrio do útero) e complicações renais. Além disso, há o risco de parto prematuro, ruptura precoce das membranas amnióticas, baixo peso ao nascer do bebê e consequências negativas para a sua saúde após o nascimento. Para evitar esses quadros, é essencial detectar a infecção logo no início para começar o tratamento o mais rápido possível. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda a realização de exames de urina e urocultura nos exames pré-natais, sendo indispensável fazê-los pelo menos uma vez em cada trimestre gestacional, pois muitas vezes a infecção urinária é assintomática nas primeiras semanas. Outra infecção bem preocupante é a rubéola. Causada pelo vírus do gênero Rubivirus, é altamente contagiosa e transmitida por meio de gotículas salivares de pessoas contaminadas com o vírus. A contaminação na gestação pode causar a Síndrome da Rubéola Congênita Fetal, que pode resultar em aborto, morte fetal ou anomalias congênitas como microcefalia, catarata, glaucoma, surdez e diabetes tipo 1. Os principais motivos do vírus ser tão prejudicial é o fato dele causar apoptose, que é a morte programada das células, impedindo o desenvolvimento correto dos órgãos no feto. As infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) correspondem a qualquer doença que pode ser transmitida de uma pessoa para outra por meio do contato sexual sem preservativo, seja ele oral-genital, oral-anal, relações sexuais anais, ou qualquer outro tipo de relação sexual por contato. Caso a gestante já tenha alguma IST, ou adquiriu ao longo da gestação, essa infecção pode ser transmitida ao bebê e há uma grande preocupação para o desenvolvimento do feto e para a saúde da gestante. Por isso, é essencial que no pré-natal sejam feitos testes laboratoriais para a detecção dessas infecções, permitindo iniciar o tratamento o mais rápido possível, caso necessário. Um estudo de revisão sistemática analisou as IST’s mais comuns entre gestantes, e o resultado mostra: Imunodeficiência Humana (HIV), sífilis e hepatites virais como as mais prevalentes. A imunodeficiência humana é uma infecção causada por um vírus que ataca o sistema imunológico do indivíduo. O HIV na gestação é perigoso tanto para a mulher quanto para o bebê, as consequências mais comuns na gestação são morbidade perinatal, aborto espontâneo, restrição de crescimento intrauterino e atraso no neurodesenvolvimento do bebê. A sífilis, uma infecção bacteriana que atinge muitas gestantes, quando ela é transmitida de mãe para o bebê chama-se transmissão vertical. O agente causador desta IST consegue entrar na corrente sanguínea do feto através da placenta e suas consequências podem ser aborto espontâneo, morte neonatal, prematuridade, baixo peso ao nascer e infecções congênitas que causam principalmente o comprometimento oftalmológico, auditivo e neurológico. Quando os sintomas da sífilis se manifestam no bebê antes dos dois anos de idade, chama-se sífilis congênita precoce, e após os dois anos chama-se sífilis congênita tardia. É necessário tomar bastante cuidado com as hepatites virais, principalmente com a Hepatite B, que é transmitida a partir de contato com material perfurocortante de indivíduos infectados, ou via relação sexual. As gestantes quando portadoras de hepatites virais são mais suscetíveis à replicação do vírus sem que o organismo da mulher identifique-o e defenda com eficiência, o resultado disso são danos preocupantes ao fígado, principalmente de desenvolver carcinoma hepatocelular e cirrose. Além disso, há o risco do vírus ser transmitido para o bebê também. Para evitar essas complicações, os exames de detecção das hepatites fazem parte do pré-natal, além da imunização estar no calendário vacinal da gestante e do recém-nascido. Outra grande preocupação quando falamos em infecções na gestação é a dengue, causada por um arbovírus e transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, essa doença é muito preocupante no Brasil devido ao seu clima ser propício para a proliferação do mosquito. Essa virose aumenta os níveis de citocinas inflamatórias que estimulam alterações no útero e na placenta, por consequência tem o potencial de causar aborto, prematuridade, restrição do crescimento intrauterino e transmissão vertical da infecção para o bebê. Um estudo epidemiológico demonstrou que é no terceiro trimestre que há o maior risco de consequências graves. Para evitar esses desfechos, é muito importante que a mulher use repelente frequentemente, e cuide do ambiente ao seu redor para que não haja água parada. As infecções respiratórias são fatores de risco para as gestantes devido a várias mudanças fisiológicas que ocorrem durante a gravidez, principalmente devido ao deslocamento dos órgãos internos que elevam o diafragma, o que afeta a respiração e reduz a capacidade pulmonar total e, com isso, ocorre uma redução da capacidade total dos pulmões e uma respiração mais superficial, aumentando a necessidade de oxigênio pela mulher e para compensar isso há uma dilatação dos vasos sanguíneos para circular mais oxigênio, porém essa dilatação pode levar a um aumento da quantidade de secreção no trato respiratório. Recentemente, a infecção respiratória que mais preocupa as mulheres gestantes e os profissionais de saúde é o COVID-19, caracterizada por um estado inflamatório que pode levar a complicações obstétricas, como parto prematuro, necessidade de cesariana e, em casos graves, morte materna. As placentas de gestantes infectadas podem apresentar alterações inflamatórias, trombóticas e vasculares, o que pode comprometer o desenvolvimento do feto. Além do COVID-19, as infecções respiratórias pelo vírus Influenza são um risco para as gestantes e ocorrem picos de contaminação anualmente, principalmente no outono e inverno. Vários estudos epidemiológicos confirmam que as mulheres grávidas com infeção por influenza são propensas a resultados adversos na gravidez, incluindo parto prematuro, bebê pequeno para a idade gestacional (PIG), baixo peso ao nascer e abortos espontâneos. O Ministério da Saúde considera as gestantes o grupo prioritário para a vacina anual contra o vírus da influenza. Estas foram algumas das várias infecções que as gestantes precisam ficar atentas, é muito importante jamais se automedicar, realizar seus exames e consultas periódicas e ficar atenta a todo e qualquer sintoma. Por hoje é só, aguardamos vocês no próximo episódio!

EP. 10 / Toxoplasmose na Gestação

Âncora 10

No episódio de hoje falaremos sobre a toxoplasmose, doença causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, que pode ser contraído a partir da contaminação de água e alimentos mal cozidos, além do contato com fezes de gatos hospedeiros do parasita. Contraindo a doença na gestação, o parasita consegue atravessar a placenta e chegar até o bebê, causando danos de diferentes graus de intensidade, podendo levar à morte fetal. As principais consequências da toxoplasmose congênita são retardo do crescimento intra-uterino, prematuridade, microcefalia, hidrocefalia, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, alterações neurológicas, oftalmológicas e auditivas no bebê, além de problemas sanguíneos tais como anemia e trombocitopenia. O impacto da toxoplasmose no desenvolvimento do bebê pode ser profundo e duradouro. As alterações neurológicas são frequentemente as mais graves, uma vez que o sistema nervoso central do feto está em formação e é altamente vulnerável à infecção. Bebês que contraem a toxoplasmose no útero podem apresentar calcificações intracranianas, que são depósitos de cálcio no cérebro, os quais podem prejudicar o desenvolvimento cerebral normal. Além disso, a inflamação das estruturas cerebrais pode levar a condições como a microcefalia, em que o bebê nasce com um tamanho de cabeça menor que o normal, afetando significativamente o seu desenvolvimento cognitivo e motor. Bebês afetados pela toxoplasmose congênita podem apresentar atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, que se manifesta por dificuldades em alcançar marcos importantes, como sentar, engatinhar e andar. Esse atraso pode ser acompanhado por dificuldades na coordenação, movimentos involuntários e, em casos graves, paralisia cerebral. A hidrocefalia, outra possível consequência, ocorre quando há um acúmulo excessivo de líquido cefalorraquidiano no cérebro, causando pressão sobre as estruturas cerebrais e potencialmente levando a danos permanentes se não for tratada. Essa condição pode resultar em dificuldades graves de aprendizado, problemas de coordenação motora, convulsões e atraso no desenvolvimento global. O sistema ocular também pode ser severamente afetado. A coriorretinite, uma inflamação da retina e da coroide, é uma das complicações mais comuns da toxoplasmose congênita e pode levar à perda parcial ou total da visão se não for tratada adequadamente. Em alguns casos, a doença ocular pode não se manifestar até a infância ou adolescência, destacando a necessidade de acompanhamento médico contínuo. Problemas auditivos também são uma preocupação significativa, pois a infecção pode danificar o nervo auditivo, resultando em graus variados de perda auditiva. Isso pode afetar a capacidade da criança de desenvolver a fala e a linguagem de forma normal, impactando no seu desenvolvimento social e educacional. Estudos já confirmaram que a contaminação durante a gestação pelo protozoário possui um risco inferior a 15% de afetar o feto, porém, quando ocorre, a gravidade da infecção é alta. As chances de infecção aumentam de 20% a 50% no segundo trimestre e chegam a 80% no último trimestre, porém com riscos menores de complicações ao bebê. O sistema imunológico do feto e do recém-nascido é muito sensível e imaturo, por isso o parasita consegue atingir os órgãos e desenvolver uma forma grave da toxoplasmose. As sequelas da doença são majoritariamente no sistema nervoso central, ocular e auditivo. Alguns bebês podem nascer assintomáticos, mas podem desenvolver sequelas da doença ao longo da vida. Para prevenir a contaminação pelo protozoário, é fundamental adotar medidas rigorosas de higiene dos alimentos durante a gestação, além de evitar a ingestão de alimentos crus ou mal cozidos. É importante lavar bem frutas e verduras com o uso de detergente ou algumas gotas de água sanitária em um molho com água, depois realizar o enxágue dos alimentos com água corrente em abundância. Também evitar o contato com fezes de gatos, e, se possível, testar os gatos domésticos para a presença do parasita. Caso a doença seja diagnosticada no período pré-natal, é essencial que o tratamento seja realizado o quanto antes, de acordo com as orientações do médico obstetra, a fim de minimizar os riscos para o bebê, reduzindo a probabilidade de complicações graves e sequelas ao longo da vida.

EP. 11 / Diabetes Gestacional

Âncora 11

No episódio de hoje vamos falar sobre uma das complicações gestacionais mais comuns em gestantes: a diabetes gestacional. A diabetes mellitus gestacional ocorre quando a mulher não tinha a doença antes da gravidez, e a desenvolve durante o período gestacional, estando relacionada às alterações fisiológicas e bioquímicas que o organismo experimenta. O diagnóstico de diabetes mellitus gestacional é feito em duas etapas: rastreamento e confirmação. O valor de referência para diagnóstico de diabetes mellitus gestacional (DMG) durante a gravidez, segundo o consenso da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), é uma glicemia de jejum entre 92 mg/dL e 125 mg/dL no primeiro trimestre. Enquanto que valores iguais ou maiores de 126 mg/dL caracterizam Diabetes Mellitus diagnosticado durante a gestação. Um dos fatores de risco para a diabetes gestacional é a obesidade, e cada vez mais aumenta o número de mulheres obesas na sociedade e, com isso, o número de gestantes que desenvolvem diabetes gestacional. Outros fatores de risco maternos para o desenvolvimento de diabetes gestacional são: idade materna avançada, história familiar de diabetes, condições prévias associadas à resistência à insulina, ganho excessivo de peso na gestação, abortamentos prévios, dentre outros. A diabetes mellitus gestacional impacta na saúde da mãe e do feto. As principais implicações maternas são candidíase vaginal, infecção urinária, hipertensão e polidrâmnio (que é um excesso de líquido amniótico no útero, podendo levar a restrição de crescimento no bebê e parto prematuro). Quanto às complicações fetais e neonatais, a hiperglicemia afeta a organogênese e pode provocar abortamentos, malformações congênitas, restrição do crescimento fetal, risco de prematuridade, hipoglicemia neonatal, macrossomia, e risco aumentado de desenvolvimento de síndrome metabólica, obesidade, hipertensão e diabetes na vida adulta. Além disso, devido ao excesso de glicose na circulação fetal, o pâncreas do feto é forçado a produzir grandes quantidades de insulina, resultando em hiperinsulinemia fetal crônica. Esse excesso de insulina estimula o metabolismo fetal, aumentando a utilização de nutrientes e elevando o consumo de oxigênio. Como o fornecimento de oxigênio pode se tornar insuficiente para atender a essa demanda elevada, o feto desenvolve hipoxemia (redução da oxigenação sanguínea). Como resultado da hipoxemia, podem ocorrer como sequelas: acidose metabólica, policitemia e deficiência de ferro. Com a oferta limitada de oxigênio, o metabolismo fetal recorre a processos anaeróbios (produção de energia sem oxigênio), que geram ácido lático como produto. Esse acúmulo de ácido lático provoca acidose metabólica, uma condição que afeta a homeostase fetal e pode comprometer a função de vários órgãos. A redução da oxigenação fetal estimula a produção de eritropoietina, hormônio responsável por aumentar a produção de glóbulos vermelhos (eritropoiese). Em resposta, o feto desenvolve policitemia (excesso de glóbulos vermelhos) como um mecanismo compensatório para melhorar o transporte de oxigênio no sangue. No entanto, após o nascimento, ocorre uma eliminação acelerada desses glóbulos vermelhos, resultando em uma produção excessiva de bilirrubina, um subproduto da degradação da hemoglobina, uma proteína que está em alta concentração nas hemácias. O acúmulo de bilirrubina leva à hiperbilirrubinemia (icterícia), que, se não tratada adequadamente, pode causar danos neurológicos devido à toxicidade cerebral, especialmente se atingir níveis elevados. A deficiência de ferro resultante da redistribuição de ferro para a produção excessiva de glóbulos vermelhos pode prejudicar o desenvolvimento cerebral. Além disso, complicações perinatais, como asfixia e instabilidade glicêmica (hipo ou hiperglicemia), afetam a oxigenação do cérebro, aumentando o risco de atrasos no desenvolvimento neurológico. A exposição à hiperglicemia intrauterina também está associada a obesidade, diabetes e distúrbios metabólicos na vida adulta do bebê. Tratar o diabetes gestacional é fundamental para garantir a saúde da mãe e do bebê. Para prevenir o diabetes mellitus gestacional é essencial adotar um estilo de vida saudável, que inclua uma alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e monitoramento dos níveis de glicose no sangue. O acompanhamento durante a gestação é crucial, pois permite a identificação precoce de riscos e a implementação de estratégias de controle glicêmico. Entre os tratamentos, a insulina tem sido indicada como primeira escolha, pela Sociedade Brasileira de Diabetes, no tratamento da diabetes gestacional, sendo indicado o acompanhamento com endocrinologista. Consultas regulares ao obstetra, avaliações nutricionais e testes de glicemia são passos importantes para garantir um desenvolvimento saudável do feto e proporcionar um parto seguro. Assim, a atenção ao diabetes gestacional não apenas promove uma gestação mais tranquila, mas também estabelece as bases para a saúde em longo prazo para mães e filhos.

EP. 12 / Hiptertensão Gestacional

Âncora 12

Olá pessoal, hoje vamos falar sobre a hipertensão gestacional, condição que merece muita atenção e cuidado pois resulta em diversas consequências negativas para a gestante e o bebê, principalmente se avançar para um quadro de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia. A pressão arterial é a força exercida pelo sangue contra as paredes das artérias, que transportam o sangue para os órgãos e tecidos, permitindo o funcionamento adequado do corpo. Quando essa pressão aumenta de forma anormal, pode causar complicações, especialmente durante a gravidez. A hipertensão crônica é causada quando a mulher já apresentava pressão alta antes de engravidar ou desenvolve o quadro na primeira metade da gestação, antes de 20 semanas. Por outro lado, a hipertensão gestacional ocorre quando a pressão arterial se eleva pela primeira vez após 20 semanas de gravidez em mulheres que tinham níveis normais antes da gestação. A hipertensão gestacional é caracterizada pelo aumento da pressão arterial durante a gestação, com valores iguais ou superiores a 140/90 mmHg segundo o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, podendo causar consequências graves para a saúde da gestante e do feto. O aumento da pressão arterial sobrecarrega o sistema cardiovascular, danificando vasos sanguíneos nos rins, cérebro e fígado, além de comprometer o fluxo sanguíneo para a placenta, o que prejudica o desenvolvimento fetal. Na gestante, essa condição eleva o risco de complicações graves, como acidente vascular cerebral (AVC), devido à ruptura ou obstrução de vasos no cérebro, além de afetar a função renal ao reduzir a capacidade de filtrar o sangue e eliminar toxinas. Outro risco significativo da hipertensão gestacional é a possibilidade de evolução para a pré-eclâmpsia, uma condição mais grave caracterizada pela presença de proteínas na urina (proteinúria), sinal de que os rins estão sendo afetados. Se não tratada, a pré-eclâmpsia pode evoluir para a eclâmpsia, que se manifesta em conjunto com convulsões e representa uma emergência obstétrica, exigindo intervenção imediata para proteger a saúde da mãe e do feto. A pré-eclâmpsia também pode desencadear o desenvolvimento da síndrome HELLP (do inglês, Hemolysis, Elevated Liver enzymes, Low Platelets), uma complicação severa que envolve hemólise (destruição das células vermelhas do sangue), elevação das enzimas hepáticas e redução das plaquetas no sangue. A síndrome HELLP pode causar danos graves ao fígado e a outros órgãos, frequentemente exigindo o parto imediato para salvar a vida da mãe e do bebê. Além dos perigos para a mulher, a hipertensão gestacional afeta os vasos sanguíneos da placenta, que normalmente se remodelam durante a gravidez para permitir um fluxo mais eficiente, mas neste caso eles permanecem rígidos e estreitos devido a alterações vasculares. Como resultado, a placenta não recebe oxigênio e nutrientes suficientes para atender às necessidades do feto, levando à restrição de crescimento intrauterino (RCIU). Além disso, a diminuição do fluxo sanguíneo pode levar ao descolamento prematuro da placenta da parede uterina. Esse descolamento pode resultar em hemorragias graves, dificultando o fornecimento de oxigênio e nutrientes ao feto no seu desenvolvimento embrionário e como resposta o organismo do bebê se programa para esta pouca quantidade e isso além de afetar o plena formação dos órgãos, faz com que após o nascimento aumente a suscetibilidade ao desenvolvimento de obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares em contextos de maior disponibilidade nutricional ao longo de sua vida. A hipertensão gestacional representa um risco significativo para a saúde materna e fetal, exigindo acompanhamento rigoroso e, muitas vezes, intervenção precoce para minimizar essas complicações. O aconselhado é ter o hábito de aferir a pressão arterial durante a gestação e caso identifique alguma alteração, procure seu médico obstetra para análise e possível tratamento adequado.

EP. 13 / Impacto dos Poluentes Ambientais na Gestação

Âncora 13

A poluição ambiental é um problema de saúde pública cada vez mais evidente e preocupante. Temos observado um crescimento no número de estudos científicos com foco em analisar o impacto da poluição na saúde humana. Aqui vamos focar nas consequências no período perigestacional. Quando falamos em poluição ambiental, a principal preocupação para a saúde é a poluição atmosférica, causada pelo gás monóxido de carbono e o material particulado. O material particulado é composto por poluentes diversos com tamanho e densidade pequenos, sendo a poeira e a fumaça alguns exemplos. A poluição ambiental é derivada principalmente da queima de combustíveis fósseis, processos industriais e agropecuários. Os principais impactos da exposição de gestantes à poluição ambiental são: pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, aborto espontâneo, restrição do crescimento intra-uterino e nascimento prematuro. As moléculas provenientes da poluição ambiental interferem na estrutura placentária e isso compromete a transferência de nutrientes e oxigênio para o organismo fetal, resultando em restrição do crescimento intra-uterino (RCIU) e baixo peso ao nascer, ambos relacionados diretamente a doenças crônicas não-transmissíveis na vida adulta desse bebê em desenvolvimento. A poluição atmosférica afeta também a glândula tireoide da gestante. As moléculas poluentes podem interferir na produção e na regulação dos hormônios tireoidianos maternos, reduzindo seus níveis. A tireoide produz os hormônios triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), que juntos desempenham um papel essencial na regulação do metabolismo e no desenvolvimento neurológico. No desenvolvimento humano, o feto inicia a produção de T4 no final do primeiro trimestre de gestação, mas sua produção endógena só se torna significativa ao longo do segundo e terceiro trimestres. Portanto, o feto depende do fornecimento de T4 materno, que atravessa a placenta e contribui para processos fundamentais do desenvolvimento cerebral fetal. Como resultado, há um impacto direto sobre o organismo do feto, comprometendo seu metabolismo, e por consequência, seu crescimento adequado e aumentando o risco de déficits cognitivos. Além disso, estudos indicam que a poluição atmosférica pode induzir uma resposta inflamatória placentária via interleucina-4 (IL-4), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina-6 (IL-6), podendo afetar a tolerância imunológica materno-fetal e comprometer a vascularização da placenta. Esse perfil pró-inflamatório interfere na transferência de nutrientes e oxigênio para o feto e aumenta o risco de complicações gestacionais, como restrição do crescimento intrauterino e parto prematuro. Outra consequência preocupante do quadro pró-inflamatório crônico gestacional é que pode afetar o desenvolvimento neurológico fetal. As citocinas inflamatórias são capazes de atravessar a barreira placentária e atingir o sistema nervoso central do feto, influenciando a neurogênese e aumentando o risco de transtornos do neurodesenvolvimento. Em longo prazo, alguns estudos analisaram a toxicidade da poluição do ar no desenvolvimento neurológico, indicando uma ligação com transtornos como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Além disso, pesquisas recentes indicam que a exposição a substâncias atmosféricas tóxicas pode afetar habilidades neurocognitivas fundamentais, como desenvolvimento intelectual, memória, aprendizagem, atenção, funções motoras e comportamentais. Sabemos que esses transtornos são complexos e certamente precisamos de mais estudos para definir sua fisiopatologia completa. Os desreguladores endócrinos (DEs) são substâncias exógenas capazes de interferir na produção hormonal e no equilíbrio homeostático, afetando a saúde dos indivíduos e, principalmente, de seus descendentes. Essas substâncias podem ser tanto naturais quanto sintéticas, e incluem uma ampla gama de compostos como substâncias que podem ser encontradas em diversos locais, como perfluoroalquiladas (PFAS) - encontradas nos oceanos e em embalagens de alimentos -, ftalatos (PAEs) - presente em plásticos e alguns detergentes -, fenóis - presentes em desinfetantes e antissépticos bucais -, bifenilos policlorados (PCBs) - encontrado em carnes industrializadas -, metais pesados, pesticidas organoclorados, dioxinas e nanoplásticos. Estão presentes em diversos produtos de consumo cotidiano e sua exposição pode ocorrer por contato dérmico, ingestão ou inalação, e está associada a uma série de doenças, incluindo tumores, doenças do sistema nervoso e do sistema reprodutivo. Referente ao uso de cosméticos e protetor solar, é sempre importante consultar o rótulo dos produtos químicos da composição e pedir a orientação do seu médico obstetra pois muitos destes produtos são contraindicados durante a gestação. Durante a gestação, a exposição aos desreguladores endócrinos pode causar sérios efeitos adversos no desenvolvimento fetal, como retardo no crescimento intrauterino, aborto espontâneo, nascimento prematuro e baixo peso ao nascer. Outros poluentes ambientais com ação de desreguladores endócrinos são os microplásticos e nanoplásticos. Estes compostos são originados a partir da fabricação e degradação de plásticos na indústria e possuem capacidade tóxica para a saúde humana. Encontram-se em diversos locais do ecossistema como solo, ar, oceanos e até mesmo em calotas polares. No entanto, estudos recentes identificaram essas partículas em órgãos dos seres humanos, inclusive no fígado, no cérebro e na placenta, podendo impactar o desenvolvimento fetal. Os micro e nanoplásticos podem atuar como disruptores endócrinos, e afetar o sistema endócrino da gestante causando uma desregulação hormonal, interferindo no sistema reprodutor. Esses compostos também conseguem atravessar a barreira placentária e atingem os fetos causando alterações no seu desenvolvimento, tais como baixo peso ao nascer, desregulação da diversidade do microbioma fetal, e comprometimento da resposta imunológica, do metabolismo e o desenvolvimento do sistema nervoso. A exposição materna aos pesticidas tem se tornado uma preocupação crescente, pois essas substâncias químicas são produtos derivados de agrotóxicos utilizados na agricultura para o controle de pragas, e estão presentes nos alimentos e na água. A exposição gestacional a pesticidas pode provocar inflamação e estresse oxidativo na placenta e no organismo do feto, resultando em danos às suas membranas celulares, disfunção proteica e alterações no DNA, o que pode precipitar desfechos adversos durante a gravidez, podendo inclusive causar um parto prematuro. Além disso, muitos pesticidas, como os organoclorados, piretroides e organofosforados, são reconhecidos como disruptores endócrinos, sendo capazes de comprometer o crescimento fetal, além de prejudicar sua saúde em longo prazo após o nascimento. Como mensagem final desse podcast, sugerimos às gestantes que evitem o contato com agentes poluentes, e, assim, os desfechos negativos derivados da exposição para a gestante e seus filhos. É aconselhável que as gestantes utilizem máscaras caso estejam em regiões com alta poluição atmosférica, evitar o consumo de alimentos embalados em plásticos e que possam ter contato com pesticidas, bem como avaliem a composição de cosméticos para evitar disruptores endócrinos.

EP. 14 / O Papel do Microbiota Materno na Gestação

Âncora 14

Microbiota é o termo utilizado para se referir à comunidade de microrganismos como bactérias, fungos e vírus que residem no intestino humano. A cada dia temos mais pesquisas científicas comprovando a importância e o papel de uma microbiota equilibrada na saúde. Sabe-se que a microbiota possui conexão direta com o sistema nervoso central, com os sistemas imunológico e endócrino. Microbiota e microbioma muitas vezes são usados como sinônimos, mas não são. O termo microbioma integra o conjunto de genes desses microrganismos, ou seja, é todo o material genético que reside no intestino humano derivado destes seres vivos. Também é importante explicarmos brevemente o significado de alguns termos relacionados a esse tema: pré-bióticos são fibras alimentares que, por não serem digeridas pelas enzimas humanas, alimentam essas bactérias benéficas; pró-bióticos são os microrganismos vivos (normalmente bactérias e leveduras) que ao serem consumidos equilibram a microbiota intestinal; e pós-bióticos são os produtos e metabólicos gerados por essas bactérias e leveduras benéficas, como os ácidos graxos de cadeia curta e peptídeos, que ajudam a manter a saúde intestinal e reduzir inflamações. Durante a gestação, é fundamental manter uma alimentação equilibrada, rica em nutrientes essenciais, para garantir o adequado funcionamento do sistema digestivo e não desregular a flora intestinal. A ingestão de fibras alimentares, por exemplo, desempenha um papel crucial nesse processo. Elas são fermentadas pela microbiota intestinal, resultando na produção de ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, propionato e acetato, que têm um impacto significativo na saúde intestinal e no metabolismo materno e fetal. Além disso, as fibras ajudam na modulação da resposta imune e na prevenção de distúrbios metabólicos, como obesidade e diabetes gestacional, que podem impactar negativamente o desenvolvimento fetal. A microbiota intestinal produz metabólitos, hormônios e neurotransmissores que conectam o intestino ao cérebro, essas substâncias são mensageiros que enviam sinais do intestino e promovem modulação cerebral. Na gestação, a microbiota materna é alterada tanto pela nutrição durante esse período quanto através dos processos fisiológicos desencadeados pela adaptação do organismo da mulher. Nesse sentido, a desregulação da microbiota, também chamada disbiose, pode aumentar a suscetibilidade a problemas gestacionais, tais como: pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, restrição do crescimento intrauterino e parto prematuro, além de consequências para a saúde do bebê em longo prazo. A disbiose materna durante a fase embrionária e fetal pode impactar o desenvolvimento neurológico, imunológico e metabólico do bebê, aumentando o risco de obesidade, diabetes e asma ao longo da vida. Alguns metabólitos produzidos pelas bactérias intestinais da gestante podem influenciar a formação e a função neural do feto, impactando positivamente a cognição e o comportamento do indivíduo ao longo da vida. Estudos sugerem que esses metabólitos podem afetar a neurogênese (processo de formação das células neuronais) e a sinaptogênese (processo no qual as células neuronais formam as sinapses, que são a forma pela qual elas se comunicam entre si), influenciando a formação das conexões neurais. Além dos metabólitos, a microbiota materna produz substâncias que podem influenciar o cérebro do feto, como neurotransmissores. Esses compostos podem ser transportados da mãe para o feto através da corrente sanguínea, atravessando a placenta. No entanto, a barreira hematoencefálica fetal, que se desenvolve progressivamente ao longo da gestação, começa a restringir o transporte de substâncias ao final do segundo trimestre e início do terceiro trimestre, quando a proteção cerebral se intensifica. Um desses neurotransmissores é a serotonina, uma substância química muito importante para o desenvolvimento do cérebro fetal, ela é produzida tanto pela placenta quanto pela microbiota materna e tem um papel fundamental na formação do cérebro do bebê. A serotonina ajuda a regular o crescimento e a migração das células cerebrais durante o desenvolvimento fetal, além de ser crucial para o desenvolvimento das conexões entre diferentes partes do cérebro, como a ligação entre o tálamo e o córtex cerebral. Esses processos são vitais para a formação de um cérebro saudável. O triptofano, um aminoácido essencial obtido pela alimentação, é metabolizado com a ajuda da microbiota intestinal materna, sendo um dos precursores necessários para a produção de serotonina. Alterações na microbiota, como ocorre na disbiose intestinal materna, podem prejudicar o metabolismo do triptofano e a produção de serotonina, resultando em possíveis impactos no comportamento do bebê após o nascimento, como aumento da ansiedade, além de alterações nas funções cerebrais e cognitivas. Outros estudos indicam que a microbiota materna regula o desenvolvimento da imunidade fetal durante a gestação através da atividade das células efetoras imunes funcionais, que são células do sistema imunológico que identificam microorganismos patógenos e conseguem eliminar essas ameaças ao organismo. A desregulação desta imunidade pode levar a doenças alérgicas, distúrbios metabólicos e infecções no bebê. Metabólitos produzidos pela microbiota intestinal materna que regulam a imunidade inata fetal incluem os ácidos graxos de cadeia curta, que têm múltiplos papeis fisiológicos e farmacológicos, tais como funções anti-inflamatórias e podem influenciar a maturação do sistema imunológico fetal, promovendo um ambiente mais saudável e equilibrado. Dessa forma, é crucial que a microbiota materna esteja regulada para manter o sistema imunológico do bebê saudável. Além desses efeitos, os microrganismos intestinais da mãe e seus metabólitos podem alterar a sensibilidade à insulina e a homeostase da glicose tanto materna quanto do feto, impactando o desenvolvimento de condições como obesidade e diabetes na vida adulta do feto. Para preservar a microbiota saudável, é importante não tomar medicamentos que não sejam prescritos pelo médico obstetra, pois muitos fármacos desregulam a microbiota intestinal, principalmente os antibióticos. Estes fármacos possuem um efeito não seletivo, reduzindo a diversidade bacteriana e favorecendo o crescimento de algumas espécies em detrimento de outras. Essa diminuição na diversidade microbiana compromete funções essenciais, como a produção de ácidos graxos de cadeia curta e além disso podem resultar na seleção de bactérias resistentes que podem causar infecções intestinais graves. Os efeitos da disbiose pelo uso de antibióticos podem ser prolongados, com a recuperação da microbiota intestinal sendo lenta, o que pode aumentar o risco de doenças inflamatórias intestinais, obesidade e diabetes. Outra dica importante é incluir na dieta da gestante o uso de probióticos, como iogurte natural, pois essa ingestão auxilia na modulação da saúde da microbiota materna, fortalece as defesas contra microrganismos patógenos e auxiliam no aumento da produção de metabólitos essenciais como os ácidos graxos de cadeia curta, tudo isso colabora para uma boa saúde do bebê. É importante seguir orientações de um nutricionista e do médico obstetra referente ao consumo de probióticos industriais, para analisar a melhor opção de consumo de acordo com a individualidade de cada gestante. Por fim, a microbiota materna desempenha um papel crucial no desenvolvimento fetal, a interação entre a microbiota materna e o feto é complexa e impacta diretamente o desenvolvimento de doenças a longo prazo. Portanto, é fundamental garantir o equilíbrio da microbiota durante a gestação. Os metabólitos produzidos pelos microrganismos da microbiota, chamados de pós-bióticos, atravessam a placenta, entram na corrente sanguínea do feto e alteram seu desenvolvimento, como acabamos de ver. Mas os efeitos da microbiota materna não param por aí. O bebê herda a microbiota materna em diversos momentos, tais como no nascimento por parto natural e na amamentação pelo contato com a mama. Com o início da introdução alimentar complementar aos 6 meses de vida, ocorrem mudanças profundas na comunidade de microrganismos da microbiota. Ao longo de toda a vida é importante estar atento à microbiota, que pode ser um fator decisivo no equilíbrio saúde-doença.

EP. 15 / Baixo Peso ao Nascer e o Risco de Doenças Crônicas na Vida Adulta

Âncora 15

O baixo peso ao nascer, segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), é caracterizado por bebês nascidos acima das 37 semanas que, na hora do nascimento, apresentam peso inferior a 2,5 kg. Ele é um dos 100 principais indicadores de saúde da OMS. O baixo peso ao nascer é derivado de restrição do crescimento intrauterino (RCIU), quando o feto não consegue se desenvolver completamente no útero no período gestacional, ou por nascimento prematuro. Existem diversos motivos durante a gestação que podem levar o bebê a nascer com baixo peso, no episódio de hoje vamos abordar alguns destes motivos e as possíveis consequências na sua saúde em longo prazo, principalmente em relação ao risco de desenvolver doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT’s) na vida adulta. Durante o período gestacional diversas condições fisiológicas e de saúde materna podem comprometer o crescimento fetal. Um dos principais fatores é a alimentação e nutrição da gestante, pois todos os nutrientes para a formação do organismo do feto são provenientes da alimentação materna e chegam até o bebê através da placenta. A desnutrição materna reduz a disponibilidade de nutrientes e energia ao feto, comprometendo o fornecimento de substâncias essenciais ao crescimento e formação dos órgãos e sistemas. Por outro lado, a obesidade também está associada a processos inflamatórios e disfunções placentárias que podem interferir na nutrição fetal. De forma similar, o diabetes gestacional, especialmente quando não controlado, pode causar alterações vasculares que comprometem o funcionamento da placenta. Ou seja, a nutrição da gestante precisa ser bem controlada e equilibrada, para a correta transferência de nutrientes ao feto. Doenças durante a gestação, como a pré-eclâmpsia, impactam diretamente no fluxo sanguíneo uteroplacentário. Na pré-eclâmpsia ocorre a vasoconstrição (constrição dos vasos sanguíneos) que reduz a oxigenação e o transporte de nutrientes ao feto, limitando seu desenvolvimento. As infecções, como toxoplasmose, Infecções Sexualmente Transmissíveis e entre outras, geram respostas inflamatórias no ambiente intrauterino que impedem o pleno desenvolvimento do feto. Além disso, o tabagismo durante a gestação é um importante fator de risco para o baixo peso ao nascer. As substâncias tóxicas presentes no cigarro, como a nicotina e o monóxido de carbono, atravessam a placenta e afetam diretamente o desenvolvimento fetal. A nicotina provoca constrição dos vasos sanguíneos, reduzindo o fluxo de oxigênio e nutrientes essenciais para o crescimento do feto, enquanto o monóxido de carbono compete com o oxigênio pela ligação à hemoglobina, agravando o quadro de hipóxia fetal. Essa diminuição no fornecimento de oxigênio e nutrientes compromete o crescimento intrauterino, favorecendo a restrição de crescimento fetal e, consequentemente, o nascimento de bebês com peso inferior ao adequado. Além disso, o processo inflamatório induzido pelo tabaco nos vasos sanguíneos da placenta contribui para a redução da capacidade de nutrição e oxigenação do feto, reforçando a associação entre tabagismo materno e baixo peso ao nascer. Outro fator importante e cada vez mais necessário de ser abordado na saúde gestacional é referente ao estresse crônico, pois esse ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, elevando os níveis de cortisol materno e fetal. Esse aumento hormonal afeta negativamente o crescimento fetal ao redirecionar energia para sistemas de resposta ao estresse, em detrimento do crescimento corporal do feto. Além disso, outro fator determinante do baixo peso ao nascer é a prematuridade. Quando o bebê nasce antes das 37 semanas, não teve tempo suficiente para completar etapas importantes do crescimento intrauterino, como o acúmulo de gordura e o alongamento ósseo, que ocorrem majoritariamente no terceiro trimestre. A maior preocupação quando o bebê nasce com baixo peso é a propensão que ele tem para doenças crônicas não-transmissíveis na vida adulta, como consequência de uma programação metabólica intrauterina para um ambiente escasso de nutrientes e oxigênio. As principais doenças com risco aumentado são obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares de início precoce. Durante a gestação, o feto é exposto a sinais bioquímicos enviados do organismo materno, os quais informam sobre as condições ambientais externas. Com base nesses sinais o feto ajusta seu metabolismo em um processo conhecido como programação fetal. Quando o ambiente pós-natal é compatível com as condições intrauterinas que o feto recebeu as informações, ocorre o que se denomina match, favorecendo uma melhor adaptação e reduzindo o risco de desenvolvimento de doenças. No entanto, quando há uma discrepância entre o ambiente intrauterino e o ambiente externo, o chamado mismatch, aumenta-se a vulnerabilidade para o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis. O baixo peso ao nascer, frequentemente consequência de um ambiente intrauterino adverso, é um importante marcador de mismatch e está associado a uma maior predisposição a essas doenças ao longo da vida. Para a obesidade, a baixa demanda de calorias que foram destinadas ao feto na gestação resulta no armazenamento excessivo de gordura em adipócitos (células do tecido adiposo) no corpo ao longo da vida adulta. Como consequência há uma interferência na ação do hormônio insulina, resultando em resistência à insulina e diabetes. Referente à hipertensão e doenças cardiovasculares, o baixo peso ao nascer ativa precocemente o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que é uma comunicação entre três glândulas endócrinas de secreção de hormônios. Essa ativação libera em excesso os hormônios glicocorticoides, que, em concentrações elevadas, podem induzir alterações estruturais e funcionais no sistema cardiovascular do indivíduo adulto. Por fim, o baixo peso ao nascer resulta de uma complexa interação entre predisposição genética, condições maternas, ambientais e placentárias. Para evitar complicações na saúde do bebê durante sua vida pós-natal é essencial seguir as recomendações do médico(a) obstetra e cuidar da alimentação, se possível, com acompanhamento de uma nutricionista. Para prevenir o baixo peso ao nascer, é essencial a gestante consultar regularmente seu médico obstetra, realizar todos os exames de acompanhamento, ter uma alimentação equilibrada, não consumir álcool e cigarros, cuidar do nível de estresse e controlar doenças crônicas. Após o nascimento do bebê é essencial acompanhar seu crescimento e desenvolvimento, amamentar pelo maior tempo que for possível, pois o leite materno é muito importante nos primeiros anos de vida, além de manter consultas regulares com o médico pediatra. Para encerrarmos, mesmo que seu bebê tenha nascido com baixo peso, com amor, acompanhamento médico e cuidados adequados, ele pode crescer saudável e feliz. O mais importante é contar com o acompanhamento médico adequado, com atenção e carinho.

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